sábado, 7 de maio de 2011

QUEM FOI JESUS CRISTO? -05


Não são apenas religiosos nessa busca. São filólogos, lingüistas, arqueólogos, paleógrafos e historiadores juntando peças milimétricas de um enorme quebra-cabeça.

O Jesus Católico, Judeu e Protestante

Judaísmo, catolicismo e rotestantismo provêm de um mesmo tronco e têm o Velho Testamento em comum. Apesar disso, suas divergências estimularam guerras e perseguições. Líderes dessas três comunidades religiosas do Brasil reavaliaram, para a SUPER, a figura de Jesus Cristo à luz da ciência e da religião.

1 - Quem foi Jesus Cristo?
2 - Por que houve cisma entre judeus e cristãos?
3 - Por que o cristianismo virou uma religião de massas?
4 - Por que Jesus foi crucificado?
5 - Como explicar as contradições entre os quatro evangelhos?

Sinal de Contradição

D. Paulo Evaristo Arns, 74 anos, é cardeal arcebispo de São Paulo

1 - Jesus foi um judeu de sua época, instruído na Torá e observante de tudo o que era fundamental para o povo de Israel. Como outros, ele também possuía uma consciência crítica do seu tempo e não deixou de mostrar o que lhe parecia contraditório na vivência religiosa e social da época. Ele foi um sinal de contradição. Já na primeira pregação pública, na Sinagoga de Nazaré, forma-se o grupo de opositores que tentam matá-lo, mas forma-se, também, o grupo de discípulos que levarão adiante sua obra.

2 - O ponto crucial foi a aceitação crescente, por parte dos cristãos, da divindade do messias Jesus de Nazaré. As outras divergências nunca foram um problema muito sério. Os judeus sempre conviveram com a adversidade e a diversidade. Mas a alta cristologia que foi se desenvolvendo entre os chamados nazarenos e que terminou por identificar Jesus de Nazaré como o próprio Deus-Pai-Iavé era inaceitável.

3 - Abrindo para o mundo o tesouro da revelação contida na tradição judaica o cristianismo só podia conquistar corações. Como não se voltar para “um Deus de compaixão e piedade, lento para cólera e cheio de amor e fidelidade, que guarda seu amor a milhares e tolera a falta, a transgressão e o pecado?” (Exodo, 34, 6-7). A lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus.

4 - João explicita a causa da condenação no diálogo de Pilatos com os judeus, quando esses afirmam: “Nós temos uma lei e que, conforme essa lei, ele deve morrer porque se fez filho de Deus” (João, 19,7). De fato, no momento na condenação, a concepção de Jesus Deus ainda não é clara para os seus discípulos. Para os judeus é apenas uma blasfêmia.

5 - Não há contradições no sentido de ensinamentos que se opõem e se negam mutuamente, como se um texto dissesse que Deus existe e outro dissesse que não. Há leituras diversificadas da realidade, pela própria natureza do escrito (gênero literário). Há pormenores redacionais que não coincidem mas que se explicam conhecendo-se a história das fontes utilizadas, a história da redação e o objetivo do autor diante de seus destinatários.

À Espera do Messias

O rabino Henry Sobel, 51 anos, é presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista.

1 - Jesus foi um judeu, um grande mestre que pregou idéias universais da fé judaica. Nós não o aceitamos como messias porque o Reino de Deus que aguardamos com tanta ansiedade ainda não se manifestou. Não rejeitamos os conceitos de Jesus sobre Deus. A questão crítica é a doutrina cristã de que Deus tornou-se homem e permitiu que seu filho único sacrificasse a vida para expiar os pecados da humanidade.

2 - O judaísmo não reconhece um “filho de Deus”que se destaca e se eleva acima dos outros seres humanos. Todos somos “filhos de Deus”. Na teoria judaica, Deus não pode materializar-se em nenhuma forma. A crença num messias divino que é encarnação de Deus contraria a convicção judaica da absoluta soberania e unicidade de Deus.

3 - O judaísmo é uma religião que se caracteriza por um grande número de leis rituais e se baseia num sistema de prescrições e proibições.

cristianismo se apresentava como uma religião “antilegalista”. Com isso, não só afirmou sua independência em relação ao judaísmo como também conquistou adeptos em todo o império romano, tornando-se uma religião de massas.

4 - É importante ressaltar o caráter opressivo do governo romano na Judéia.

Pôncio Pilatos foi especialmente cruel no exercício de suas funções. Antes de Jesus, centenas de outros judeus já haviam sido crucificados. Jesus foi crucificado pelos soldados romanos como criminoso político, “Rei dos Judeus”. A acusação de deicídio, que pesou sobre o povo judeu e foi uma das principais causa do anti-semitismo é totalmente infundada. Acusar os judeus da morte de Jesus foi a forma mais convincente de fazer a verdadeira acusação, a de que nem todos os judeus se tornaram cristãos. Há trinta anos, o Concílio Vaticano II repudiou a acusação de deicídio contra os judeus.

5 - Existem quatro evangelhos, não um. É preciso lembrar que não foram escritos como relatos históricos, no sentido moderno, isto é, como uma transcrição factual de eventos, e sim como narrativas de caráter religioso. Os eventos foram vistos sob quatro óticas teológicas diferentes.

Flores da Diversidade

Milton Schwantes, 49 anos, é pastor luterano de Guarulhos e coordenador do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião.

1 - Jesus foi um sábio em meio à vida da gente. Na Galiléia, era pouco percebido entre os grandes. Suas críticas aos romanos imperialistas e às elites locais por certo eram severas, duras. Mas não promoviam a luta armada. O amor radical como caminho da justiça decidida era sua vida. Jeus foi revolucionário, sem armas.

2 - Ao invés de fazer-se comunitária, a experiência pode fazer-se violenta, excludente, exclusiva. Eis a estufa do fundamentalismo. Somos hóspedes na casa de Israel. Não donos. Os que estão “em Cristo”, que são cristãos, assumem a fragilidade de não serem auto-suficientes. Sem Israel e suas sinagogas viramos galho sem tronco. Mas nem sempre suportamos esta fragilidade. Antes fizemo-nos donos. Quisemos adonar-nos de Israel.

Expropriamos os de Tupã, escravizamos os de Olodum. Ao deixarmos de ser hóspedes de Israel fizemo-nos também exterminadores de muitos povos.

3 - Pelo que me consta, os cristãos não passavam de uns 10% da população, quando Constantino incorporou essa religião ao império romano. Nesse sentido, o cristianismose tornou religião de massas através do poder de Estado. Aliás, o que aí teve início perpassou a história da Europa e das Américas. O poder foi o maior pregador. Ainda estamos nestes tempos. Ora, as igrejas se sentem muitos sós sem os palácios. Ora, o senhorio do palácio se torna devoto, porque sem religião não se ganha eleição.

4 - Os colonizadores romanos mandavam matar na cruz. E quem estava com eles, fazia o jogo do império. À cruz era levado quem ameaçasse a ordem dos senhores em Roma e em Jerusalém. Por isso Jesus foi sentenciado. Aliás, continua sendo sentenciado, hoje, dia a dia. Basta querer ver.

5 - Tradições bíblicas investem na diferença. Jardim bonito é o que floresce em muitas cores. A Bíblia leva mais o jeito de jardim do que de verdade em si, acabada, na linha. Até seria de estranhar se não houvesse “contradições”.

Os quatro evangelhos não fogem à regra da diversidade, cada qual dando o melhor de si para embelezar sua flor. O mundo é maior e mais lindo que o que cabe na mente ocidental, que pensa em linha, em fila, alinhada.

REVISTA SUPER INTERESSANTE
Edição 103 – Abril 1996
Nota: Imagem de Jesus Cristo não consta na Edição 103 desta Revista, só ilustrativa desse BLOG.
Se deseja compartilhar e divulgar estas informações, reproduza a integralidade do texto e cite o autor e a fonte. Obrigada, Hospital Espiritual do Mundo.

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