sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Aborto do Anencéfalo

Medinesp 2007 
150 Anos em Busca da Integração 
Corpo-Mente-Espírito

Por: Fátima Barbosa

No painel Questões Bioéticas e Espiritualidade, ocorrido no início do segundo dia do Medinesp 2007, o congresso internacional da Associação Médico-Espírita do Brasil, em junho, em São Paulo (SP), Ricardo Sallum, professor da Faculdade de Medicina e membro da Associação Médico-Espírita de Santos, tratou do tema O Aborto do Anencéfalo. Após sua apresentação, ele falou à Folha Espírita, que relata abaixo os principais pontos discutidos:

Folha Espírita – O que é Anencefalia? O termo está correto?

Ricardo Sallum – O termo não está correto porque o feto tem o cérebro reptiliano. A existência dessa parte do encéfalo garante que ele tenha as atividades que são básicas, normais para o funcionamento do corpo humano: ele respira, tem batimentos cardíacos, função gástrica, enfim, o metabolismo que dá suporte à vida. Isso permite que ele viva ou sobreviva por algum tempo. De acordo com a Medicina ortodoxa, o que ele não tem é a parte consciencial, nem tampouco a emocional mais profunda. Ele não vai aprender nada, nunca, porque não tem a parte do córtex, ou seja, as circunvoluções cerebrais, responsáveis pelas nossas emoções, pela fala, pela inteligência, pela maioria dos órgãos do sentido. Como frisamos, ele possui apenas as atividades básicas que um ser humano precisa para sobreviver. Diante disso, você deve estar se perguntando: mas espere aí... Então ele só sobrevive, tem morte certa?

Ora, todos nós temos morte certa, o problema, então, é uma questão de lapso de tempo. Se você imaginar dessa maneira uma criança que tem uma doença cardíaca, uma agenesia de ventrículo esquerdo – antes fatal, perdi uma filha assim, hoje já se conseguiria alguma coisa –, então, por causa disso, vamos matá-la imediatamente quando ela nascer, vamos fazer esse aborto?

FE – Como você vê o caso da menina do município paulista de Patrocínio Paulista?

Sallum – Até a médica da pequena Marcela, que não é espírita, está impressionadíssima com a interatividade entre a mãe e a filha. Esse caso introduz um novo paradigma no trato do feto, e, creio, vai mudar o conceito dos profissionais que não são espíritas. No caso dessa menina, tendo em vista que só possui uma pequena parte do encéfalo, ela não poderia gostar, amar, ter carinho. Mas, como disse sua médica, quando vê a mãe, o pai, ela interage. Então ela interage com o quê? Uma das hipóteses é que o cerebelo poderia desenvolver algo mais para fazer as vezes da parte cortical. A outra hipótese é a de que haja ali um espírito comandando tudo. Para mim, é esta a hipótese correta.

FE – O aborto no Brasil é crime. Só não se aplica a lei penal em dois casos: no chamado aborto necessário, para salvar a vida da gestante por risco de morte iminente, e quando a gravidez é resultado de estupro. No caso do anencéfalo, você acha que o aborto deveria ser permitido?

Sallum – Sou contrário a qualquer tipo de aborto, mas temos de observar uma série de situações. No caso de perigo de morte iminente para a gestante, não há dúvida nenhuma que temos de fazer uma opção entre a vida do nenê e da mãe. E é claro que vamos intervir para salvar a vida da mãe. Com relação ao estupro, sou contra! Estou certo de que não devemos legalizá-lo, mas é um tema muito difícil. Não sendo legal, a gestante que não conseguir carregar a gestação até ao fim, por não suportar a prova, fará uso do seu livre-arbítrio, quanto à decisão a tomar. Não podemos ser fundamentalistas em nada, mas gostaríamos de lembrar que um crime não justifica o outro. Certo dia, um colega nosso dava uma palestra sobre aborto, quando uma senhora perguntou: “Se a sua esposa fosse estuprada, o senhor a faria praticar o aborto?” Ele respondeu com sinceridade – porque o conheço – que não, que iria pedir para ela não fazê-lo e que faria de tudo para amar a criança como se fosse seu filho.

FE – No caso do anencéfalo como fica a questão espiritual? Há muitas pessoas que acreditam que um feto assim não possui espírito conectado ao corpo. Isso é verdade?

Sallum – Claro que não. Veja, por exemplo, o caso da anencéfala que sobrevive até hoje. A menina, Marcela, tem todas as atividades basais que lhe dão suporte à existência e, ao mesmo tempo, ela interage com a mãe e o pai. Então, quem interage, se ela não tem todas as condições neurológicas necessárias? O espírito! Não tem outra explicação.

FE – Segundo o Conselho Federal de Medicina, os exames complementares a serem observados para constatação de morte encefálica deverão demonstrar ausência de atividade elétrica cerebral, ausência de atividade metabólica cerebral ou ausência de perfusão sanguínea cerebral. Ainda segundo o CFM, em sua resolução nº 1752/04, os anencéfalos são natimortos cerebrais, e por não possuírem córtex, e apenas o tronco encefálico, são inaplicáveis e desnecessários os critérios de morte encefálica. Você concorda com essa resolução? É contra a retirada dos órgãos do anencéfalo com a finalidade de transplante?

Sallum – Não concordo com a resolução, acho que é homicídio doloso. O grande problema é que os critérios de morte cerebral não se aplicam muito bem ao anencefálico, devido à sua peculiar fisiologia cerebral. Se há atividade elétrica cerebral e você não consegue mensurar, se não há como monitorar neurologicamente a parte do cérebro existente, duas coisas podem acontecer: você pode tirar os órgãos da criança ainda com vida ou esperar que ela morra para removê-los, o que é uma péssima idéia para quem trabalha nessa área, uma vez que não se faz transplante com o coração parado. Esses critérios de morte encefálica são, portanto, inaplicáveis. Os pais têm de ser informados quanto a isso. Devem saber que, se forem tirar os órgãos dessa criança, ela está viva!

Acho que, no caso de anencefalia, o bebê não deve ser abortado. Ele tem de ser mantido vivo até que a morte ocorra naturalmente, para que cumpra o tempo necessário de vida na Terra, porque a gente sabe que é processo de resgate, tanto para ele quanto para os pais. Sabe-se lá o que está acontecendo por trás disso tudo. Não devemos vê-lo jamais como um potencial doador de órgãos, pois se assim o fizermos estaremos matando-o.

FE – Por que o espírito tem de passar por essa prova? E por que para ele é importante viver até o último suspiro nessa condição?

Sallum – Na área encefálica, o perispírito tem dois chacras: o coronário e o frontal. O coronário está na área mais alta do nosso perispírito e é o mais importante, o mais nobre. Ele tem comunicação direta com o frontal. E é este que está mais lesado no caso do anencéfalo. Nós sabemos que as lesões nessa área são as mais difíceis para nós expurgarmos, porque temos de entender que a doença do corpo é o expurgo da doença da alma. Ou seja, através do perispírito vai para o corpo. Os nossos irmãos que usaram de maneira inadequada a inteligência, os órgãos do sentido, enfim, a parte cerebral, lesaram de tal maneira o perispírito que precisam passar pela experiência corpórea para corrigir o desequilíbrio, porque eles não conseguem remover lá do outro lado da vida. Então vêm aqui passar por essa situação muito difícil, tanto para eles como para os pais.

É preciso lembrar, no entanto, que, muitas vezes, os pais já têm evolução espiritual suficiente para aceitar a missão e ajudar o espírito que tem necessidade de passar por essa provação para alcançar o reequilíbrio. A anencefalia é o top de linha, ou seja, é uma coisa gravíssima. Acho que tudo faz parte do processo de resgate, tanto para o espírito reencarnante, quanto para os pais, como para nós, que, como sociedade, temos de nos posicionar quanto a essa questão.

FE – Você acha que toda mulher que gera um anencéfalo deveria receber assistência psicológica e espiritual? Pergunto isso por que a gente só ouve falar da pressão sobre elas para fazer o aborto, mas não para lhes dar amparo psicológico.

Sallum – Você não só não deve como não pode pressioná-la a abortar, e deve dar todo o suporte psicológico para que ela leve a gestação a termo. E depois que a criança nasce, quando houver o luto, que é inevitável, que ela possa continuar a ser amparada junto aos membros de sua família. O processo de luto é muito importante, faz parte você ver o morto, assimilar aquilo. Faz parte se preparar para o luto também.

Estudos modernos mostram que os pais de bebês anencefálicos, que levaram a gestação adiante, estão muito melhor do que os pais que praticaram aborto, que negaram a gravidez ou não quiseram ver a criança. Isso o Espiritismo mostra com muita clareza para os que quiserem ver.

Artigo: O Aborto do Anencéfalo
Por: Fátima Barbosa
Matéria Publicada no Site Folha Espírita em Dezembro de 2007 - Edição número 400.

O Hospital Espiritual do Mundo agradece os irmãos da Folha Espírita pelos Artigos que engrandecem este espaço de Aprendizagem e encontros Sagrados. 
Nota: Se deseja compartilhar e divulgar estas informações, reproduza a integralidade do texto e cite autor e fonte. Obrigada Hospital Espiritual do Mundo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não se Preocupe! Os comentários aparecerão em breve.