sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O CURANDEIRO GLOBALIZADO



O CURANDEIRO GLOBALIZADO
Por: Marcelo Zorzanelli (texto)
e Ricardo B. Labastier (fotos), de Abadiânia, GO

A vida de João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus - ou John of God -, o cirurgião espiritual de Goiás que é mais famoso fora que dentro do Brasil.
CELEBRIDADE
João de Deus, na casa onde atende milhares de pacientes por ano. A maioria são estrangeiros.

São 5 da tarde na cidade de Abadiânia, interior de Goiás, a 115 quilômetros de Brasília. O cheiro dos tijolos cozidos na pequena olaria passeia pelo ar de agosto, um dos mais secos do ano no Cerrado. A poeira vermelha não adere ao chão e se espalha sobre telhados, paredes e ruas. As poucas árvores são retorcidas e nanicas, nada imponentes sobre a grama desidratada. Do outro lado da rua, um complexo de prédios conhecido como Casa de Dom Inácio de Loyola se destaca na paisagem poeirenta pela impecável limpeza. O pó não se assenta porque todas as quartas, quintas e sextas-feiras, no fim da tarde, litros de água são despejados por todos os lados, enquanto homens e mulheres vestidos de branco empurram vigorosamente rodos no chão de cimento batido. 

O furioso mutirão de limpeza é o último ritual de um dia comum na “Casa”, como é conhecido o lugar. Encerra um expediente que começa às 8 da manhã e que atrai 800 pessoas a Abadiânia. Na maioria estrangeiros, eles vêm em busca das cirurgias espirituais, visíveis e invisíveis, efetuadas por um fazendeiro conhecido como João de Deus, o mesmo epíteto que o papa João Paulo II recebeu em sua primeira visita ao Brasil, em 1980. Neste caso, o João que atrai multidões – diz já ter atendido 10 milhões de pessoas, o que exigiria receber mais de 500 por dia, todos os dias, durante 50 anos – se chama João Texeira de Faria. Já foi tema de uma reportagem da TV americana ABC, em 2005, e é o protagonista de um documentário do canal Discovery, a ser exibido internacionalmente (no Brasil, vai ao ar nos dias 25 e 29 de agosto, às 22 horas).

O furioso mutirão de limpeza é o último ritual de um dia comum na “Casa”, como é conhecido o lugar. Encerra um expediente que começa às 8 da manhã e que atrai 800 pessoas a Abadiânia. Na maioria estrangeiros, eles vêm em busca das cirurgias espirituais, visíveis e invisíveis, efetuadas por um fazendeiro conhecido como João de Deus, o mesmo epíteto que o papa João Paulo II recebeu em sua primeira visita ao Brasil, em 1980. Neste caso, o João que atrai multidões – diz já ter atendido 10 milhões de pessoas, o que exigiria receber mais de 500 por dia, todos os dias, durante 50 anos – se chama João Texeira de Faria. Já foi tema de uma reportagem da TV americana ABC, em 2005, e é o protagonista de um documentário do canal Discovery, a ser exibido internacionalmente (no Brasil, vai ao ar nos dias 25 e 29 de agosto, às 22 horas).

João estremece, como se uma corrente elétrica passasse pelo corpo. Diz que agora está ali o “doutor José Valdivino”.

Na internet, há uma profusão de sites em que pacientes relatam curas milagrosas. Na Casa, um cômodo abarrotado de ex-votos oferecidos por pessoas que se dizem curadas – muletas, braços e pernas de cera, cadeiras de rodas, óculos, reproduções de arcadas dentárias e uma coleção de tecidos humanos conservados em formol – é um testemunho da multidão que já foi atendida ali. João de Deus chega à Casa cedo, por volta das 7h30 da manhã, e senta-se num sofá do pequeno escritório anexo aos salões principais. Nas paredes, imagens de santos, retratos de gente atendida por ele, uma foto sua ao lado do médium mineiro Chico Xavier, diplomas de honra ao mérito emitidos por associações militares, entidades policiais e Câmaras de Vereadores. As paredes brancas com rodapé azul de 1 metro de altura, onipresentes na Casa, formam um corredor claustrofóbico que leva ao salão principal, onde cerca de 300 pessoas de todas as idades estão sentadas, de olhos fechados e em silêncio.

SOB RECEITA
João de Deus prescreve, em grande parte dos atendimentos, um preparado à base de raízes e ervas, vendido na Casa por R$ 10 o pote.
João não ergue a vista para quem o espera. Ele está descalço e navega em passos incertos até uma cadeira de espaldar alto. A seu redor, uma dúzia de buquês de flores frescas, estátuas de santos e uma pedra de quartzo que serve de gruta para uma Pietà. Ele chama dois de seus assistentes e dá uma mão a cada um.

Estremece, revira os olhos, sacode os ombros e retesa os braços, que deixa cair, como se uma corrente elétrica passasse por seu corpo. Ele se recompõe. Até as 5 da tarde, estará em transe, atendendo as centenas de pessoas que formam uma fila em frente a sua cadeira. Seu ar normalmente contrito dá lugar a movimentos amplos dos braços e uma genuína hiperatividade. De acordo com ele, quem está ali agora é o “doutor José Valdivino”, uma das 30 entidades que João afirma usar seu corpo como “aparelho” – designação da literatura espírita – para curar pessoas. Entre as supostas entidades estão figuras históricas como o sanitarista Oswaldo Cruz, Santo Inácio de Loyola e Santa Rita de Cássia. 

Entre os que o procuram estão pacientes de câncer, esclerose, paralisia cerebral, bócio, nódulos mamários, cefaléia, vertigem, dor abdominal, lombalgia, problemas oculares, aids. João diz não prometer curas, que segundo ele dependem “da vontade de Deus”. Na ante-sala onde se forma a fila, são exibidos vídeos com testemunhos de curas milagrosas. Uma equipe de auxiliares informa os que esperam atendimento quanto aos primeiros passos: vestir-se de branco para “facilitar o acesso à aura”, que tipo de comida evitar. Em seguida, vão todos para a fila. Uma jovem americana, de olhos fechados, medita com uma foto do presidente George W. Bush nas mãos. “Concentrem-se nas suas doenças,” diz uma auxiliar de João. “Os espíritos estão examinando vocês, e farão um relatório para facilitar o atendimento.”

A CIRURGIA 
O médium raspa a córnea de um paciente com uma faca de mesa, sem assepsia nem anestesia. O doente não sente dor .
As cirurgias podem ser “visíveis” ou não, de acordo com a vontade do paciente. Nas visíveis, os procedimentos mais comuns são a introdução de uma pinça cirúrgica no nariz, a raspagem da retina ou a retirada de tumores com bisturi. Às vezes, João faz simples massagens na região onde o paciente reclama de dor. O médium pergunta, imperativo: “Cadê a dor?” Todos dizem não sentir mais nada.
Em alguns casos, ele ordena a pessoas em cadeiras de rodas ou muletas que as abandonem e andem. Em todos os casos presenciados pela reportagem de ÉPOCA, os pacientes saíram claudicando com muita dificuldade. Quando há cortes, ele costura a ferida com agulha e linha, e o paciente vai para uma sala de repouso. Se há sangue no chão, os auxiliares se apressam em limpá-lo com álcool de cozinha. Os instrumentos cirúrgicos não são limpos entre uma operação e outra. 
Uma consulta sem cirurgia é mais rápida. João rabisca um papel, que é seu “receituário”, um garrancho ilegível. Seus auxiliares o traduzem. A prescrição é sempre o mesmo preparado de raízes e ervas ou um apontamento para uma cirurgia posterior. Quem passou por uma cirurgia espiritual é orientado a ficar 24 horas em repouso. A Casa também pede que não se interrompa o tratamento médico. A maioria das pessoas em busca de cura acaba ficando mais que uma semana em Abadiânia, a pedido das “entidades”. Ela também é incitada a permanecer na Casa durante vários dias, para uma “corrente de meditação”.

LONGA VIAGEM

O casal Alice e Walter Reschl, da Áustria, levou o filho mais velho a Abadiânia para tratar de uma distrofia muscular.
Em uma das paredes da Casa há uma reprodução de um estudo publicado em 2000 na Revista da Associação Médica Brasileira. O trabalho é, supostamente, uma tentativa de investigar cientificamente as cirurgias espirituais de João de Deus. Um de seus autores, Alexander Moreira de Almeida, hoje é professor de Psiquiatria na Universidade Federal de Juiz de Fora. Ele já escreveu artigos em outras publicações com títulos como “Visões espíritas dos distúrbios mentais no Brasil” e “A mediunidade vista por alguns pioneiros da área mental”. O estudo de 2000 não chegou a conclusão nenhuma. Uma das co-autoras, Maria Ângela Gollner, se diz constrangida pelo uso do artigo. “Ele fez daquilo uma máquina de propaganda”, disse, referindo-se a João de Deus. Ouvido por ÉPOCA, Almeida não quis revelar sua crença religiosa e disse ignorar que o artigo esteja afixado na Casa Dom Inácio. 

Dez cirurgias de João de Deus foram acompanhadas, mas apenas seis pacientes foram entrevistados e quatro foram localizados seis meses depois da cirurgia – em nenhum caso foi obtido o histórico médico dos pacientes. Esse artigo inconclusivo, porém, costuma ser usado como uma espécie de “respaldo científico” para o trabalho de João de Deus. Outro argumento são entrevistas de médicos americanos. Mehmet Oz, um cirurgião conhecido nos Estados Unidos – colabora com o programa de Oprah Winfrey –, se disse impressionado com as imagens das cirurgias. “Eu gostaria de ter o tipo de treinamento que permite a ele transformar s o próprio corpo num mecanismo de cura”, disse à TV americana ABC.

Uma visita da atriz americana Shirley MacLaine, em 1991, atraiu fama mundial a Abadiânia.

A popularidade de João de Deus no exterior se deve em grande parte à ampla cobertura da imprensa internacional em 1991, quando a atriz americana Shirley MacLaine tratou-se com ele (supostamente foi curada de um tumor abdominal). De lá para cá, o boca a boca, as reportagens e os livros publicados nos EUA e na Europa se encarregaram de espalhar a fama. No site da Amazon, encontram-se pelo menos três livros e dois DVDs em inglês sobre João de Deus, com títulos como John of God: the Brazilian Healer Who’s Touched the Lives of Millions (João de Deus: o Curandeiro Brasileiro que Tocou as Vidas de Milhões).

ESPIRITUALIDADE


A australiana Phoebe Dixon levou para Goiás uma professora com câncer. “O mundo precisa de mais gente como João. 
Caçula de cinco irmãos, João conta que passou pela primeira “experiência transcedental” aos 9 anos. Segundo ele, a mãe, dona Iúca, o levou para visitar parentes no vilarejo de Nova Ponte, em Goiás. João diz que, em um dia sem nuvens, previu que muitas casas seriam destruídas por uma tempestade. A muito custo, convenceu dona Iúca a ir embora. Segundo ele, em poucos minutos nuvens negras surgiram, e a chuva arrasou 40 casas. João conta que, aos 15 anos, começou a incorporar espíritos. O trabalho de cirurgião espiritual começou nessa época. Seu relato é assim: certo dia, quando tomava banho de rio em Campo Grande (atual Mato Grosso do Sul), encontrou uma mulher bonita com quem passou o resto do dia conversando. No dia seguinte, voltou ao rio para procurá-la, mas ouviu apenas a voz dela, ordenando que comparecesse a um centro espírita chamado Cristo Redentor. Chegando lá, desmaiou. Quando acordou, horas depois, envergonhado, atribuiu o desmaio à fome. Os membros do centro acalmaram-no e disseram que João havia sido possuído por um espírito e, durante o transe, feito cirurgias espirituais, dizendo ser o rei Salomão, da Bíblia. 

Depois de mais um dia de cirurgias, com a voz calma, João conta outras histórias de sua juventude. Um dia, diz, viu uma mulher que se debatia em frente à janela de sua casa. Uma multidão a cercou. João correu para junto da mulher e pegou sua cabeça nas mãos. O ataque cessou. Um homem que assistia a tudo perguntou o que havia acontecido. João disse que tinha o dom de curar pessoas. O homem o desafiou a adivinhar que problema de saúde ele tinha. “O senhor quer operar o joelho”, respondeu João. Impressionado, o homem teria dito, brandindo um distintivo de delegado: “Você vem comigo para Brasília”. João afirma que foi sua primeira rodada de serviços prestados a figuras ligadas ao poder, que seriam seus principais defensores em 50 anos de atendimento. Em várias ocasiões, João foi proibido de fazer atendimentos ou foi preso por ordem judicial, como charlatão, e solto por políticos. Até hoje guarda os documentos desses casos em pastas de capa preta que lotam uma estante em sua sala. Entre as cartas de apreço, algumas são assinadas pelo ex-vice-presidente Marco Maciel, o ex-senador Íris Rezende, o recém-falecido senador Antônio Carlos Magalhães e o ex-presidente peruano Alberto Fujimori.

João tem nove filhos e cuida de quatro fazendas de gado. “As doações não bastam. Às vezes, tenho de vender bois”.

João diz que não gosta de ser chamado de curandeiro ou milagreiro. Mas eram esses os nomes que anunciavam sua chegada a cidades da região Centro-Oeste na década de 60. Ele atendia doentes em centros espíritas ou casas de umbanda.

“Minha família só me aceitou depois de 20 anos da minha missão”, diz João.
“Para eles, eu era bruxo.” Ele se declara católico. Anda com uma imagem de Santo Agostinho no bolso do jaleco. Faz o sinal-da-cruz antes de dormir. Diz que gosta de dançar em serestas e chama a terceira mulher, Ana, de s Flor do Cerrado. Mora em Anápolis, a 40 quilômetros de Abadiânia, para onde volta dirigindo o próprio utilitário esportivo no fim do dia. Tem nove filhos e administra quatro fazendas de gado. Tentou se aventurar no ramo da mineração de ouro. Afirma que sofreu prejuízos e decidiu se restringir à pecuária. Segundo conhecidos, é um ótimo negociante. “As doações não bastam para pagar os funcionários”, diz. “Então, às vezes, tenho de pegar do que eu ganho. Vender uns bois. A despesa aqui é de R$ 90 mil, R$ 100 mil por mês. Nossas contas estão abertas para quem quiser ver.”

CURA?
Nos três dias em que esteve na Casa de Dom Inácio, a reportagem de ÉPOCA ouviu dezenas de pessoas, com os mais diferentes tipos de enfermidade. 
Todas pareciam tranqüilas e sorridentes. “Os médicos disseram que meu filho não viveria muito”, diz a austríaca Alice Gabriel. É uma história semelhante à de muitas mulheres que acompanham os filhos à Casa. Julian, o filho de Alice, tem 13 anos e vive preso a uma cadeira de rodas devido a um caso severo de distrofia muscular. Alice e o marido, Walter Reschl, viram João de Deus na Alemanha há dois anos. Já haviam levado o filho a curandeiros na Inglaterra e Itália, sem resultado. Foram a Abadiânia em 2006 e estão ali há um ano. “Em poucas semanas, a doença se estabilizou”, diz Alice. Ruzica Wiesen, nascida na antiga Iugoslávia e naturalizada americana, diz que foi diagnosticada com artrite reumatóide há 19 anos.

Apesar de levar uma vida saudável como professora de ioga em Chicago, afirma que subitamente perdeu a capacidade de andar sem a ajuda de muletas. “Descobri que os problemas são espirituais.” Ruzica diz que voltou a andar desde que passou a freqüentar a Casa, há dois anos. “Tenho fé que foram os espíritos que me ajudaram. Isso basta.” Phoebe Dixon, uma australiana de 20 anos, veio ao Brasil acompanhar a professora de Psicologia da faculdade, que tem câncer de fígado. “Quando ouvi que havia algo assim no mundo, resolvi conferir com meus próprios olhos”, diz a estudante. 
A professora de ioga americana Ruzica Wiesen diz que voltou a andar depois de se tratar de uma artrite reumatóide em Abadiânia. 

Tamanha é a presença estrangeira que alguns hotéis de Abadiânia nem dispõem de avisos em português. Todo hotel tem pelo menos um funcionário que sabe mais que o “nice to meet you”. “Os benefícios para a cidade são inegáveis”, diz o prefeito, o médico Itamar Vieira Gomes. “Ele movimenta a economia, além de trazer uma energia muito boa para cá.” Quando perguntado sobre a influência política de uma figura tão importante, o prefeito é explícito: “O João não fica em cima do muro. Ele escolhe quem vai apoiar. Ainda bem que fui eu. Espero que também me apóie nas próximas eleições”. 

O padre da cidade não fala sobre João de Deus. Tampouco o médico de plantão no posto de saúde de Abadiânia. Numa quarta-feira em que João atendia centenas de pessoas, só uma senhora e sua neta estavam na sala de espera do posto de saúde. A menina nem sequer iria se consultar: estava ali para ser vacinada. 

REVISTA ÉPOCA 
Por: Marcelo Zorzanelli (texto) 
e Ricardo B. Labastier (fotos), de Abadiânia, GO
25/08/2007 - 03:40 | Edição nº 484.
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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

DEUS É BRASILEIRO E MORA EM ABADIÂNIA

DEUS É BRASILEIRO E MORA EM ABADIÂNIA
Por: Arthur Verissímo
Fotos: François Calil

Uma força estranha movimentava minha mente e espírito farejador nos arquivos secretos de recortes e matérias guardadas que tenho em casa.

Fonte inesgotável de pautas, este imenso baú contém reportagens e curiosidades desde os idos de 1970. Revirava, fuçava, recordava, quando repentinamente uma matéria datada de 16 de março de 1991 e publicada na revista Manchete desencantou milagrosamente. A reportagem registrava a visita ao Brasil da atriz Shirley MacLaine, em que havia sido submetida naquele período a uma operação espiritual para a extração de um câncer no abdome realizada pelo médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Abadiânia – ou simplesmente João de DEUS. João incorpora muitas entidades e a que estava presente diante da atriz era o espírito caridoso do doutor Augusto de Almeida. Logo após a sessão, Shirley saiu da sala operatória explodindo de emoção: “Estou curada. Não tenho mais dores!”.

Comovida e sorridente, deu alguns saltinhos e complementou: “Agora posso dançar outra vez”.

Os Portais de Sabedoria tinham sido acionados. Como um dínamo, entramos em contato com a administração da Casa Dom Inácio, sede dos trabalhos do médium João Teixeira de Faria, em Abadiânia, Goiás. Recebemos sinal verde para conhecer, investigar e participar in loco das cirurgias, curas e dia-a-dia daquele local abençoado por Deus.

Abadiânia fica a 85 quilômetros de Goiânia. É uma cidade com 15 mil habitantes e seu comércio é impulsionado pelas caravanas de pacientes que se deslocam de todo o Brasil e do exterior em busca da cura de doenças graves como Aids, câncer, esclerose múltipla, paralisia cerebral, doenças psíquicas, entre outras, ou apenas procuram um sentido maior para a vida. 

Os relatos das curas espirituais e milagres operados em pessoas desenganadas pelos médicos aumentam vertiginosamente o número de aflitos para o tratamento espiritual.

O atendimento na Casa Dom Inácio é realizado às quartas, quintas e sextas-feiras. O local não é nem um centro espírita nem uma igreja. É simplesmente um hospital espiritual ou templo ecumênico ao qual todas as religiões têm acesso. Em seu interior, se destacam mensagens, poemas e orações, emoldurados nas paredes da área mediúnica, e imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora de Fátima, Dom Inácio de Loyola, Madre Tereza de Calcutá e das entidades que incorporam o corpo de João Teixeira. O médium, vale dizer, é católico e não se considera espírita – apesar de realizar intervenções espirituais. Ou seja, seu trabalho, gratuito, se dá independentemente de credos ou religiões.
Seguidores do médium goiano fecham os olhos e entram numa espécie de transe mentalizando a cura de suas aflições
Centenas de pacientes – a esmagadora maioria formada por estrangeiros – aguardam e são atendidos pelo “doutor” de Deus.

Gringolânia 
O centro, com área superior a 12 mil m2, foi construído na cidade por conta de uma recomendação do espírito de Bezerra de Menezes. Por intermédio de Chico Xavier, ele aconselhou João de Deus a fundar uma casa para a prática da caridade nessa cidade goiana, local de intenso magnetismo. A principal dependência é a chamada área mediúnica, que se divide em várias salas. No salão principal, onde o público se aglomera para o início dos trabalhos, são realizados os primeiros esclarecimentos. Tudo é organizado. Filas para a primeira vez, segunda vez, revisão e pessoas com cirurgia marcada pela entidade. Não existe história de celebridade ou famosinho querendo furar a fila ou ser atendido fora do horário. 

O que me impressionou foi a quantidade de estrangeiros – cerca de 80% do fluxo de pessoas. Gregos, eslovenos, canadenses, norte-americanos, franceses, coreanos, japoneses, irlandeses... uma verdadeira Torre de Babel. Entramos (eu e o fotógrafo) numa primeira sala: um grupo de mais de 80 médiuns-auxiliares permaneciam sentados, de olhos fechados, em sintonia com os trabalhos da entidade. O objetivo, descobri depois, era energizar o ambiente e fazer as primeiras limpezas espirituais nos pacientes. Existem algumas normas de não cruzar pernas e braços e de ficar caladinho. Um calor que vinha das minhas entranhas purificava todo o meu corpo. Um hálito cósmico espiritual permeava a sala. 

Minha vez se aproxima. Um turbilhão de pensamentos inunda minhas vísceras e o véu de trevas que cobre minha consciência é dissipado. Um perfume divino paira no ar. Estava conectado e a entidade me chamou. Olhou para mim e disse que era bem-vindo na casa e tinha a autorização de fotografar e conhecer todas as dependências. Rapidamente falou que era para trabalhar e entrar na corrente. Quando sentei na cadeira, instantaneamente captei uma descarga parecida à produzida pelas turbinas de uma usina hidrelétrica. Na corrente, você está integrado. Não havia divisões entre corpo, mente e alma.

Um click me fez despertar do estado meditativo. A entidade me chamava. Ajoelhei ao seu lado. Ela identificou-se como sendo o doutor Augusto de Almeida (o mesmo que tratou de Shirley MacLaine em 1991) e perguntou se eu queria presenciar algumas cirurgias visíveis.
Facas, canivetes, tesouras, pinças e bisturis são todos os instrumentos cirúrgicos utilizados pelo médium. O repórter test drive experimenta o “banho de cristal” para equilibrar os chacras.
Acima, João incorpora o espírito do médico Augusto de Almeida e inicia os trabalhos com a ajuda de médiuns-auxiliares e de uma enorme pinça, enfiada nariz adentro do enfermo.

Uma senhora francesa foi posicionada com um dos filhos da casa aparando suas costas. A entidade chamou uma das assistentes, que prontamente ofereceu uma bandeja cirúrgica com bisturis, pinças e canivetes. Observei de perto a introdução na cavidade nasal da paciente de uma pinça em forma de tesoura com mais de 20 centímetros (na ponta havia um chumaço de algodão). Fiquei perplexo. Acompanhei uma jovem norte-americana ter sua córnea raspada com um canivete e muitas outras cirurgias visíveis ocorreriam nesse dia. Era impressionante constatar um homem simples como João Teixeira, sem nenhuma experiência médica, executar tantas intervenções com sucesso e sem anestesia. Minhas dúvidas foram esmagadas pela sabedoria da fé – em geral, as cirurgias são invisíveis. Nas consultas, as entidades indicam para os pacientes o tradicional medicamento Passiflora, cápsulas contendo pó de maracujá (um preço simbólico cobre os custos de produção). A farmacêutica Glaciane Dias dos Santos, uma das responsáveis pelo laboratório de manipulação, sustenta que o medicamento é o mesmo para qualquer pessoa. E, acredite, surte um efeito diferente em cada um. “Sinceramente”, diz ela, “essa reação foge dos meus conhecimentos.”

O que ocorre nas sessões é pleno mistério. O trabalho é puramente energético e em camadas que fogem à compreensão. O aspecto principal na operação física é exatamente dar um empurrão no ceticismo de algumas pessoas. Médicos, autoridades e jornalistas ficam estarrecidos diante das operações. Muitos me relataram os milagres ocorridos em suas vidas. Meu espírito radiava compaixão.

Um dedinho de prosa com Deus, a cura da Aids e outros “milagres” de Abadiânia estão nos evangelhos da Trip, capítulo de junho, versículo #145, já nas bancas .

Sob o efeito da Passiflora, um sereno Arthur posa diante das centenas de muletas abandonadas na Casa Dom Inácio.

REVISTA TRIP
Por: Arthur Verissímo
Fotos: François Calil
http://revistatrip.uol.com.br/145/especial/arthur.htm 
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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ações de Entidades Inferiores Durante o Carnaval


Em “O Livro dos Espíritos”, encontramos o esclarecimento das relações existentes entre o mundo físico e a ação do mundo espiritual sobre este.

Dizem os imortais, que os Espíritos são atraídos pelos costumes, pelos hábitos, pelo caráter dominante dos homens e que estes são mais ou menos assistidos, rodeados e influenciados segundo a natureza de seus próprios pensamentos.

A influência se estabelece de tal forma, que os Espíritos dizem que a população espiritual se acotovela e praticamente se confunde com a massa de encarnados, participando intensamente de suas atividades e ações. Para termos consciência da dimensão desta relação e dos processos que aí se estabelecem, acompanhemos narrativa do Espírito Manoel Philomeno de Miranda e sua equipe em uma excursão a determinada festa popular na sociedade terrestre, descrita na obra Entre os Dois Mundos:

(…). Em face dos desconcertos emocionais que os exageros festivos produzem nas criaturas menos cautelosas, há uma verdadeira infestação espiritual perturbadora da sociedade terrestre, quando legiões de Espíritos infelizes, ociosos e perversos, são atraídas e sincronizam com as mentes desarvoradas.

Nesse período instalam-se inumeráveis obsessões coletivas que entorpecem multidões, dizimam existências, alucinam valiosos indivíduos que se vinculavam a formosos projetos dignificadores.

A seguir, convocou-nos a visitar uma das capitais brasileiras próxima, na qual a explosão de alegria popular, num denominado festival de verão, era ampliada pelo abuso do álcool, das drogas e do sexo desvairado.

Imediatamente vimo-nos em movimentada artéria praiana, feericamente adornadas, na qual centenas de milhares de pessoas entregavam-se ao desbordar das paixões. A música ensurdecedora atordoava a massa informe, compacta e suarenta que se agitava ao ritmo alucinante, enquanto era estimulada por especialistas na técnica de agitação popular.

Acurando a vista, podia perceber que, não obstante a iluminação forte, pairava uma nuvem espessa onde se agitava outra multidão, porém, de desencarnados, mesclando-se com as criaturas terrestres de tal forma permeada, que se tornaria difícil estabelecer fronteiras delimitadoras entre uma e outra faixa de convivência. A nudez predominava em toda parte, os movimentos sensuais e eróticos dos corpos com abundante transpiração exsudavam o forte cheiro das drogas ingeridas ou injetadas, produzindo estranho quanto desagradável odor às nossas percepções.

No pandemônio natural que se fazia, esses espíritos, perversos uns, exploradores outros, vampirizadores em número expressivo, exploravam seus dependentes psíquicos em lamentável promiscuidade, submetendo-os a situações deploráveis e a prazeres grosseiros que nos chocavam, apesar da nossa larga experiência em relação a conúbios dessa ordem… Eu imaginava, como é possível que o ser humano destes formosos dias de cultura, de ciência e de tecnologia, se permitiam tantas sensações selvagens e irresponsáveis!

O desfile parecia não ter fim, sempre aturdido pelos conjuntos musicais de textura primitiva, que os hipnotizavam, impedindo o discernimento. Era compreensível que se permitissem todos os tipos de lascívia e de perversão, já que a multidão era um corpo uniforme, no qual as pessoas não dispunham de espaço para a livre movimentação, ensejando a confusão dos sentidos e a mescla absurda dos atritos físicos.

Tratava-se, porém, do culto à deusa Folia, numa enxurrada física e psíquica das mais vulgares e pervertidas, em cujo prazer todos entregavam-se ao olvido da responsabilidade, ao afogamento das mágoas e à liberação das paixões primitivas. Jovens e adultos pareciam haver perdido o direcionamento da razão, deixando-se enlouquecer pelo gozo exagerado, como se tudo ficasse centralizado naquele momento e nada mais houvesse após.

Criminosos de várias classes misturavam-se aos foliões esfuziantes e tentavam furtá-los, roubá-los, agredindo-os com armas brancas, ao tempo em que psicopatas perversos utilizavam-se da confusão para darem largas aos distúrbios que os assinalavam. Altercações e brigas violentas, que culminavam em homicídios infelizes, misturavam-se aos disparates da festa que não cessava, porque, naquela conjuntura, a vida era destituída de significado e de valor.

Não saíra da perplexidade em que me encontrava, quando o irmão Petitinga veio em meu auxílio, comentando:

- Passada a onda de embriaguez dos sentidos, os rescaldos da festa se apresentarão nos corpos cansados, nas mentes intoxicadas, nas emoções desgovernadas e os indivíduos despertarão com imensa dificuldade para adaptar-se à vida normal, às convenções éticas, necessitando prosseguir na mesma bacanal até a consumpção das energias.

“Amolentados pelas extravagncias, saudosos da luxúria desmedida e ansiosos por novos acepipes, tentarão transformar todas as horas da existência no delírio a que ora se entregam… Tentarão investir todos os esforços para que se repitam os exageros, e porque as loucuras coletivas fazem-se com certa periodicidade e eles dependem desse ópio para esquecer-se de si mesmos, passam a viver exclusivamente o dia-a-dia do desequilíbrio em pequenos grupos, nos barzinhos, nos guetos e lugares promíscuos, nos subterrneos do vício onde se desidentificam com a vida, com o tempo e com o dever.

“Tornando insuportável a situação de cada uma dessas vítimas voluntárias do sofrimento futuro, os parasitas espirituais que se lhes acoplam, os obsessores que os dominam, explorando suas energias, atiram-nos aos abismos da luxúria cada vez mais desgastante, do aviltamento moral, da violência, a fim de mantê-los no clima próprio, que lhes permite a exploração até a exaustão de todas as forças.

“É muito difícil, no momento, estancar-se a onda crescente da sensualidade, do erotismo, da depravação nas paisagens terrenas, especialmente em determinados países. Isto porque, as autoridades que governam algumas cidades e nações, com as exceções compreensíveis, estão mais preocupadas com a conquista de eleitores para os iludir, do que interessadas na sua educação.

A educação, que liberta da ignorncia, desperta para o dever e a conscientizaçã o das massas, não sendo de valor para esses governantes, porque se o povo fosse esclarecido os desapeava do poder de que desfrutam, em face da claridade mental e do discernimento. Reservam então altas verbas para serem aplicadas no desperdício moral, disfarçando as doações sob a justificativa de que se trata de utilização para o lazer e a recreação, quando estes são opostos aos exageros dos sentidos físicos. Mais recentemente, foram encontradas outras explicações para a legalização das bacanais públicas, sob os holofotes poderosos da Mídia, como sejam as do turismo, que deixa lucros nas cidades pervertidas e cansadas de luxúria.

É certo que atraem os turistas, alguns para observar os estranhos comportamentos das massas, que têm em conta de subdesenvolvidas, de atrasadas, de primitivas, permanecendo em camarotes de luxo, como os antigos romanos contemplando as arenas festivas, nas quais os assassinatos legais misturavam-se às danças, às lutas de gladiadores e ao teatro fescenino… Outros, para atenderem aos próprios tormentos, malcontidos, que podem ser liberados com total permissão, durante os festejos incomuns. E outros, porque necessitam de carnes novas para o comércio sexual, especialmente se está recheado de crianças vendidas por exploradores hábeis e pais infelizes.

“Por outro lado, os veículos de informação de massa exaltam o corpo, fomentam as paixões sensoriais, induzindo as novas gerações e os adultos frustrados ao deboche, ao fetiche das sensações, transformando a sociedade em um grande lupanar.

“Não é do meu feitio entretecer considerações que possam tornar-se críticas destrutivas, mas havemos de convir que, sobreviventes que somos da morte, não podemos deixar de considerar que os enganos foliões de hoje serão os desencarnados tristes de amanhã, queiramos ou não, sendo de lamentar-se a situação na qual despertarão após a perda do corpo.

“Só a educação, em outras bases, quando a ética e a moral renascerem no organismo social, irá demonstrar que para ser feliz e para recrear-se, não se torna imperioso o vilipêndio do ser, nem a sua desintegração num dia, esquecendo-se de sua eternidade”. Nesse comenos, o nosso condutor convidou-nos para a primeira tarefa que se iniciara naquela cidade mesmo, embora o som terrível e flagelador da música agressiva e da algazarra dos seus aficionados.


Se deseja compartilhar e divulgar estas informações, reproduza a integralidade do texto e cite o autor e a fonte. Obrigada. Hospital Espiritual do Mundo.

NOTA.: As imagens usadas neste site foram tiradas da net sem autoria das mesmas. Caso alguém conheça o autor das imagens, agradeceremos se nos for comunicado, para que possamos conferir os devidos créditos. Grata, Esperança.

Medicina e o Espiritismo

Autor: Marcos Paterra

No Brasil, a relação entre religião e medicina, há décadas, vem sendo abordada com uma certa freqüência na imprensa e em publicações específicas. Geralmente através da mídia chega-se de dois modos a imagem de práticas religiosas de cura: associadas às instituições religiosas ou a certos agentes populares de cura (benzedores, rezadores, videntes) que atuam, autonomamente, desvinculados de instituições e movimentos religiosos. Ambos são sempre reconhecidos pela medicina como curandeiros ou charlatões, passíveis de penalidades de acordo com o Código Penal Brasileiro. Quanto às publicações específicas é tradicional, entre as Ciências Sociais, o interesse pela temática dentro do campo religioso. Nesse contexto científico, as religiões brasileiras tornaram-se objeto de estudo, entre elas as religiões mediúnicas, que se caracterizam por um elemento comum: a manifestação do transe (candomblé, umbanda, pentecostais, espiritismo ).

As religiões afro-brasileiras são as que mais aparecem, seja pelo número de adeptos, popularidade ou influência na cultura nacional. É possível encontrar trabalhos científicos, que focalizam a clientela e a demanda de tratamento e cura religiosas, os quais têm valor importante na análise da constituição dessas religiões.

Foram identificados estudos sobre práticas religiosas que se desenvolvem no interior de hospitais psiquiátricos, em cujo espaço organizam-se terapêuticas religiosas aplicadas de maneira complementar ao tratamento tradicional da Psiquiatria. Mais detalhadamente, o hospital espírita é um espaço relacional onde profissionais da saúde e espíritas convivem e atuam efetivamente desde os anos de 1950.

Desde o início, pareceu contraditória a existência desse tipo de hospital, uma vez conhecida de todos a secular relação antagônica entre a medicina e religião, que ocupa, em conseqüência disso, campos de atuação distintos e autônomos. Por outro lado, mesmo diante da importância contingente dos hospitais psiquiátricos espíritas no Brasil não foi encontrada nenhuma referência a eles na literatura médica, antropológica, sociológica ou historiográfica, apesar de alguns trabalhos mencionarem timidamente tais instituições, inseridas no contexto assistencial da religião espírita. A existência de hospitais espíritas, mencionando-os como grupo de atividades extensivas aos centros espíritas e não fazem outra nota fora desse ambiente religioso, inseridos no contexto assistencial da religião espírita. Por outro lado, o espaço dos hospitais psiquiátricos dirigidos por espíritas aparece também como lugar em que os espíritas praticam a religião de base reencarnacionista, que tem na prática da caridade e da mediunidade elementos importantes.

Levando-se em conta que o espiritismo traduz o espaço conjunto religioso e médico como um meio para legitimar os princípios religiosos, deve-se levar em conta que estas instituições sociais se constituem também em meios de assistência médica, imprescindível à própria prática médica e à assistência à saúde da população, enquanto prestadora de serviços médicos assistenciais, segundo a sua relação com a biomedicina e a política governamental de saúde.

Importantes relações entre espiritismo e cultura letrada, levantando as características de uma `religião do livro`, peculiarmente às práticas de cultura letrada no transe mediúnico, cujo exemplo de privilégio à escrita nas comunicações psicografadas.

Discussões grupais na escola espírita, onde o conteúdo do sistema de crenças e a cultura bibliográfica são atualizados pela participação efetiva dos adeptos na religião por meio de práticas vinculadas a uma socialização no mundo escolar e erudito da sociedade (citações, leitura, prece, oratória, doutrinação).

A obra de André Luiz (escritos psicografados por Francisco Candido Xavier) dentro da hipótese de que o Espiritismo constituiu-se de uma tradição da cultura escrita, funcionando como memória cultural do grupo. Essa perspectiva não poderia ser descartada uma vez que, para nós, esse corpusliterário é a composição elementar do capital cultural do profissional da saúde, que carrega valores da crença espírita, além dos valores cognitivos incorporados pelas ciências médicas. O capital cultural está retratado na etnografia que fez, em que traduziu a leitura e a fala dos espíritos enquanto autoridade textual, formadora de uma unidade da oralidade. No entanto, o autor deixou de explorar, na obra de André Luiz, a parte que diz respeito às concepções das doenças em geral e das deficiências mentais em particular, fundamentais na estrutura simbólica em que se propõe o escritor mediúnico em comparação ao escritor não-mediúnico (por exemplo, o médico convertido ao espiritismo, Bezerra de Menezes), principalmente considerando-se a possibilidade da literatura espírita estender-se à publicação de autoria de médicos espíritas, atualmente autores de teses espíritas igualmente importantes para análise da cultura espírita.

Ressalta-se que, da crença na existência do espírito e do perispírito, lançada na base da doutrina de Allan Kardec, será com o médico Bezerra de Menezes, convertido ao espiritismo, que se inculca socialmente a crença na possibilidade de realização do projeto terapêutico espírita. Essa expectativa social, que segue paralelamente à prática religiosa do espiritismo religioso de Allan Kardec na base do exercício da mediunidade caritativa, juntamente com o espiritismo científico de MENEZES (1988), que estrutura as condições sociais de diagnosticar a doença mental sem lesão cerebral, reclama as posições sociais ainda não assumidas inteiramente por profissionais da saúde praticantes do espiritismo, dentro de espaços médicos no país. Nesse contexto, emergem na concorrência do projeto médico-espírita o sistema simbólico organizado pelo médium XAVIER (1959) pela escrita do espírito André Luiz. Médico desencarnado, André Luiz relaciona prática mediúnica com prática médica, cristalizando o poder simbólico no termo médico-espírita e a possibilidade da prática médico-espírita se realizar no espaço médico no país. Essa forma de poder transfigurado foi legitimado pelos sistemas conceituais anteriores de crenças consolidada no perispírito.

Nas relações com a medicina, o espiritismo busca reconhecimentos legais das práticas terapêuticas para lhes garantir, ao mesmo tempo, a perpetuação de sua estrutura cientificista que a religião, no seu interior, têm como fundamento, que mais servem de estratégia da religião para competitividade no campo religioso. É dessa maneira que se procura distinguir, de modo legítimo, das demais práticas de cura associadas a benzedores, rezadores e outros agentes de cura na sociedade (curandeiros ou charlatães).

Conseqüentemente, diferencia-se dos sistemas terapêuticos de outras religiões, garantindo igualmente a concorrência simbólica no mercado de bens de salvação no interior do campo religioso.

O Hospital Espiritual do Mundo agradece os irmãos do SITE ARTIGONAL pelas Mensagens que engrandecem este espaço de Aprendizagem e encontros Sagrados.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Oração e Cura - Emmanuel

Recorres à oração, junto desse ou daquele enfermo, e sofres, quando a restauração parece tardia.
Entretanto, reflete na Lei Divina a que todos, obrigatoriamente, nos entrosamos. 
Isso não quer dizer devamos ignorar o martírio silencioso dos companheiros em calamidade do campo físico.
Para tanto, seria preciso não haver sentimento. 
Sabemos, sim, quanto dói seguir, noite a noite, a provação dos familiares, em moléstias Irreversíveis; conhecemos, de perto, a angústia dos pais que recolhem no coração o suplício dos filhinhos torturados no berço; partilhamos a dor dos que gemem nos hospitais como sentenciados à pena última, e assinalamos o tormento recôndito dos que fitam, inquietos, em doentes amados, os olhos que se embaciam... 
Observa, porém, o quadro escuro das transgressões humanas que nos rodeiam. 
Pensa nos crimes perfeitos que injuriam a Terra; na insubmissão dos que se rendem às sugestões do suicídio, prejudicando os planos da Eterna Sabedoria e criando aflitivas expiações para si mesmos; nos processos inconfessáveis dos que usam a inteligência para agravar as necessidades dos semelhantes e na ingratidão dos que convertem o próprio lar em reduto do desespero e da morte... 
Medita nos torvos compromissos dos que se acumpliciam agora com os domínios do mal, e perceberás que a enfermidade é quase sempre o bem exprimindo reajuste, sustando-nos a queda em delitos maiores. 
Organizemos, assim, o socorro da oração, junto de todos os que padecem no corpo dilacerado, mas, se a cura demora, jamais nos aflijamos. 
Seja o leito de linho, de seda, palha ou pedra, a dor é sempre a mesma e a prece, em toda parte, é bênção, reconforto, amparo, luz e vida. 
Lembremo-nos, no entanto, de que lesões e chagas, frustrações e defeitos, em nossa forma externa, são remédios da alma que nós mesmos pedimos à farmácia de Deus.

Emmanuel - Na obra: ‘Seara dos Médiuns’ 
Francisco Cândido Xavier

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Madre Teresa de Calcutá


Madre Teresa de Calcutá, Missionária católica albanesa, nascida na República da Macedônia e naturalizada indiana beatificada pela Igreja Católica.
Em 1979 recebeu O Prêmio Nobel da Paz. Seu nome verdadeiro é Agnes Gonxha Bojaxhiu, (nascida em Skopje, aos 26* de Agosto de 1910 — Faleceu em Calcutá, aos 5 de Setembro de 1997).
Beata Teresa de Calcutá considerada a missionária do século XX, concretizou o projeto de apoiar e recuperar os desprotegidos na Índia.
Através da sua congregação "Missionárias da Caridade", partiu em direção à conquista de um mundo que acabou rendido ao seu apelo de ajudar o mais pobres dos pobres.

Biografia:
Agnes partiu para a Índia em 1931, para a cidade de Darjeeling, onde fez o noviciado no colégio das Irmãs de Calcutá.
No dia 24 de maio de 1931, fez a profissão religiosa, e emitiu os votos temporários de pobreza, castidade e obediência tomando o nome de "Teresa". A origem da escolha deste nome residiu no fato de ser em honra à monja francesa Teresa de Lisieux, padroeira das missionárias, canonizada em 1927 e conhecida como Santa Teresinha. De Darjeeling foi para Calcutá, onde exerceu, durante os anos 30 e 40, a docência em Geografia no colégio bengalês de Sta Mary, também pertencente à congregação de Nossa Senhora do Loreto. Impressionada com os problemas sociais da Índia, que se refletiam nas condições de vida das crianças, mulheres e velhos que viviam na rua e em absoluta miséria, fez a profissão perpétua a 24 de maio de 1937.
Com a partida do colégio, fez um curso rápido de enfermagem, que veio a tornar-se um pilar fundamental da sua tarefa no mundo.
Em 1946, decidiu reformular a sua trajetória de vida. Dois anos depois, e após muita insistência, o Papa Pio XII permitiu que abandonasse as suas funções enquanto monja, para iniciar uma nova congregação de caridade, cujo objetivo era ensinar as crianças pobres a ler. Desta forma, nasceu a sua Ordem
 – As Missionárias da Caridade. Como hábito, escolheu o sári, nas cores — justificou ela — "branco, por significar pureza e azul, por ser a cor da Virgem Maria". Como princípios, adotou o abandono de todos os bens materiais.
 O espólio de cada irmã resumia-se a um prato de esmalte, um jogo de roupa interior, um par de sandálias, um pedaço de sabão, uma almofada e um colchão, um par de lençóis, e um balde metálico com o respectivo número.
Começou a sua atividade reunindo algumas crianças, a quem começou a ensinar o alfabeto e as regras de higiene. A sua tarefa diária centrava-se na angariação de donativos e na difusão da palavra de alento e de confiança em Deus.
No dia 21 de dezembro de 1948, foi-lhe concedida a nacionalidade indiana. A partir de 1950 empenhou-se em auxiliar os doentes com lepra. Em 1965, o Papa Paulo VI colocou sob controle do papado a sua congregação e deu autorização para a sua expansão a outros países. Centros de apoio a leprosos, velhos, cegos e doentes com HIV surgiram em várias cidades do mundo, bem como escolas, orfanatos e trabalhos de reabilitação com presidiários.
Ao primeiro lar infantil ou "Sishi Bavan" (Casa da Esperança), fundada em 1952, juntou-se o "Lar dos Moribundos", em Kalighat.
Mais de uma década depois, em 1965, a Santa Sé aprovou a Congregação Missionárias da Caridade e, entre 1968 e 1989, estabeleceu a sua presença missionária em países como Albânia, Rússia, Cuba, Canadá, Palestina, Bangladesh, Austrália, Estados Unidos da América, Ceilão, Itália, antiga União Soviética, China, etc.
O reconhecimento do mundo pelo seu trabalho concretizou-se com o Templeton Prize, em 1973, e com o Nobel da Paz, no dia 17 de outubro de 1979.
Morreu em 1997, aos 87 anos, mas o seu trabalho missionário continua através da irmã Nirmala, eleita no dia 13 de março de 1997 como sua sucessora. Tratado como um funeral de Estado, vários foram os representantes do mundo que quiseram estar presentes para prestar a sua homenagem.
As televisões do mundo inteiro transmitiram ao vivo durante uma semana, os milhões que queriam vê-la no estádio Netaji. No dia 19 de outubro de 2003, o Papa João Paulo II beatificou Madre Teresa.*

Fonte: muraldosescritores.ning.com