sexta-feira, 6 de maio de 2011

QUEM FOI JESUS CRISTO? -02


Não são apenas religiosos nessa busca. São filólogos, lingüistas, arqueólogos, paleógrafos e historiadores juntando peças milimétricas de um enorme quebra-cabeça.

A Judéia Antes e Depois de Cristo

Israel conquistou a independência no ano 129 a.C. vencendo os monarcas selêucidas, que reinavam na Palestina. Os judeus macabeus, que lideraram a revolta, fundaram a dinastia Asmoneu. Mas a rivalidade entre as seitas judaicas acabou provocando uma guerra civil (103-76 a.C.) que opôs saduceus – a classa alta, influenciada pelo helenismo, aliada aos asmoneus e aos sacerdotes do Templo de Jerusalém – aos fariseus anti-helenizantes, adeptos de uma interpretação das Escrituras que reconhecia a nova classe de escribas religiosos – os rabinos.

Mais tarde, no ano 63 a.C., Roma invadiu a Palestina conflagrada pelo sectarismo religioso. O general Pompeu ocupou o Templo e transformou a Judéia em província romana. Em 48 a.C., os romanos nomearam Antipater governador da Judéia e, em 31 a.C., depois de debelarem uma tentativa da dinastia Asmoneu de voltar ao poder, coroaram governador Herodes Antipas (filho de Antipater).

Herodes era um monarca detestado. Casou-se com uma princesa asmonéia mas a permanente paranóia de uma restauração real judaica induziu-o a assassiná-la. Além dela, Herodes matou também quatro filhos, a sogra e o cunhado. Também insultou a religiosidade dos judeus construindo templos pagãos e um hipódromo para lutas de gladidores em plena Jerusalém. Mas deixou obras importantes, como o porto de Cesaréia, a fortaleza de Massada e a restauração do Templo, cujo muro ocidental, o Muro das Lamentações, continua de pé até hoje.

Jesus nasceu sob o governo de Herodes (Veja na página 54), ano em que houve 2 000 crucificações na Judéia. Na época, os judeus estavam divididos em quatro seitas. Os saduceus, fortemente influenciados pela cultura helenista, cujos sacerdotes dominavam o Templo, eram a elite. Os fariseus eram populistas: propunham o judaísmo orientado pelos rabinos do povo. Os austeros essênios, renunciantes e eremitas, preferiam o isolamento. Por fim, os radicais zelotes, pregavam a violência e a revolta contra Roma.

Com Cristo, surgiria mais uma seita, a dos nazarenos.

O Fim do Mundo

Havia um grande anseio apocalíptico, na Judéia, no século I. Esperava-se ardentemente a vinda do Messias, aquele destinado a libertar Israel dos romanos. Com o Messias, viria o fim do mundo, o reinado de Deus na Terra e uma nova era para o povo escolhido. Profetas maltrapilhos anunciando o fim dos tempos e pregando a salvação era o que não faltava. As seitas se confrontavam no Templo e, fora dele, os zelotes organizavam atentados contra os romanos, brigavam entre si e com as outras seitas, e planejavam a revolta liderada pelo Rei Messias.

O plano dos zelotes demoraria a se consumar. No ano 6, os romanos assumiram o governo direto da província através de prefeitos como Pôncio Pilatos (26 a 36) – que mandou crucificar Cristo no ano 30. Em 37, houve uma nova provocação: o imperador Calígula mandou levantar sua estátua no Templo (que não chegou a ser concluída). Só em 64, os zelotes deflagaram a rebelião. O general Vespasiano veio da Bretanha e acabou com o levante. Na véspera do ataque a Jerusalém, voltou para Roma para assumir o trono e passou a tarefa ao filho, Tito. Em 28 de agosto de 70, a cidade foi arrasada, o Templo, destruído e milhares de judeus, escravizados.

Mesmo assim, a agitação religiosa não parou. Em 73, 960 judeus suicidaram-se na fortaleza de Massada para não caírem prisioneiros dos romanos. Em 114, as comunidades judias de Chipre, Alexandria e Cirene revoltaram-se e foram destruídas. Em 132, um novo auto-proclamado messias, Shimon Bar Kosib, que mudou o nome para Bar Kochva, Filho da Estrela, liderou outra revolta, de três anos. Os romanos mandaram o general Júlio Severo, arrasaram 1 000 povoados e mataram centenas de milhares. Em 135, o imperador Adriano mandou passar o rastelo em Jerusalém.

O desastre da segunda revolta acabou com a influência dos zelotes e consagrou a autoridade dos rabinos fariseus. Em 138, com o abrandamento da dominação pelo imperador Antonio Pio, o judaísmo rabínico expandiu-se.

Mas, a essa altura, a popularidade do cristianismo era muito maior.

A Paixão sem Paixão

Cristo só nasceu no dia 25 de dezembro por obra do papa João I, que decretou a data do Natal no ano de 525. Mudava ali o calendário cristão. O monge Dionisio Exiguus, incumbido de determinar o ano zero, errou nos cálculos. Segundo Lucas e Mateus, Jesus nasceu “perto do fim do reino de Herodes”. Problema: Herodes morreu em 4 a.C. Hoje, a tese mais aceita é a de que Jesus tenha nascido no ano 7 a.C., um pouco antes da morte de Herodes. Isso mesmo: Cristo nasceu antes de Cristo.

O outro senão é o local. Em Mateus e em Lucas, é a gruta de Belém. Para Mateus, a família de José foge, depois, para o Egito, escapando ao massacre das crianças promovido por Herodes, e vai para Nazaré. Para Lucas, a anunciação do nascimento, pelo anjo à Virgem, é feita em Nazaré e, de lá, a família vai para Belém, obrigada pelo “censo ordenado pelo imperador César Augusto quando Quirino era governador da Síria”.

Entretanto, os registros romanos mostram que Quirino governou a Síria no ano 6 d.C. Os censos tampouco exigiam deslocamento para o local de origem familiar (José era de Belém), já que seu propósito era cobrar impostos. “É um pouco triste ter de dizer isso, porque o nascimento na gruta é uma história cativante, mas a viagem de ida e volta a Nazaré para o censo é pura ficção, criação da imaginação de Lucas”, escreveu o padre John Dominic Crossan, professor de Estudos Bílblicos na Universidade de DePaul, de Chicago, em seu livro O Jesus Histórico. 

Belém aparece como a terra natal porque era a cidade do rei Davi. “Conforme as profecias das Escrituras Hebraicas, o messias deveria nascer em Belém”. Hoje é consenso: Jesus nasceu em Nazaré.

REVISTA SUPER INTERESSANTE
Edição 103 – Abril 1996

Nota: Imagem de Jesus Cristo não consta na Edição 103 desta Revista, só ilustrativa desse BLOG.
Se deseja compartilhar e divulgar estas informações, reproduza a integralidade do texto e cite o autor e a fonte. Obrigada, Hospital Espiritual do Mundo.

2 comentários:

  1. Adoro história, e esse texto é legal.
    Beijo, principalmente na sua mãezinha.

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  2. Muito bom !!!

    Adorei, muito bonito e instrutivo.

    beijos

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