sábado, 7 de maio de 2011

QUEM FOI JESUS CRISTO? -04




Não são apenas religiosos nessa busca. São filólogos, lingüistas, arqueólogos, paleógrafos e historiadores juntando peças milimétricas de um enorme quebra-cabeça.

Os Quatro Evangelhos Místicos

O teólogo Paulo Augusto de Souza Nogueira, professor de Literatura Bíblica do Instituto Metodista de Ensino Superior, de São Bernardo do Campo, explica as características dos evangelhos.

São Mateus

Escrito na Síria, em Antióquia, nos anos 70 e 80, em grego. Seu público é o das comunidades cristãs e judaicas. Testemunha o afastamento dos cristãos das sinagogas. A discussão da interpretação da nova lei de Jesus indica que cristãos e judeus estão se diferenciando.

São Marcos

Escrito na Galiléia, por volta do ano 70, em grego, revela tradições orais fixadas recentemente, em relação ao tempo em que foi escrito. Reinterpreta a saga de Jesus e sua pregação para comunidades cristãs em crise com a guerra judaica contra Roma. Esfria a expectativa do fim do mundo e reacende a esperança no reino de Deus.

São Lucas

Escrito em Éfeso, nos anos 80 e 90, em grego, o melhor grego dos quatro evangelhos. É a primeira parte de uma obra mais ampla que inclui os Atos dos Apóstolos. Mostra o cristianismo como um movimento da Galiléia para Jerusalém, Antióquia, Asia Menor, Grécia e Roma. Triunfa sobre a dispersão provocada pelo fim do mundo que não veio e afirma o futuro das comunidades cristãs.

São João

Escrito na Síria, depois da década de 90, em grego. Apresenta um Jesus esotérico, místico e enigmático, que realça sua presença na comunidade na forma de Espírito Santo. Os discursos são longos e as narrativas amplas. Os monólogos mostram uma religiosidade mística, gnóstica e esotérica, quase oriental.

Os Testemunhos Não-Cristãos

Historiadores gregos e judaicos, como Filão, o Judeu (20 a.C. - 50 d. C), ignoram Jesus e discorrem longamente sobre Pôncio Pilatos. Mas o personagem foi notado por escritores romanos.

Flávio Josefo (37-100) (texto provavelmente adulterado)

“Nessa época viveu Jesus, um homem sábio. Se é que se pode dizer que era humano. Ele fazia milagres. Era o Cristo. Quando nossos cidadãos o denunciaram e Pilatos condenou-o à crucificação, ele apareceu, três dias depois da sua morte, de novo vivo. Os profetas anunciaram suas maravilhas e milhares o adoraram” (Antiguidades Judaicas, cap. XVIII, p. 63)

Tácito (55-120) (escrevendo sobre o incêndio de Roma)

“Nero acusa aqueles detestáveis por suas abominações que a multidão chama de cristãos. Esse nome vem de Cristo, que sob o principado de Tibério, foi mandado para o suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. Reprimida momentaneamente, essa superstição horrível rebrotou novamente, não apenas na Judéia mas agora dentro de Roma” (Anais, capítulo XV, p. 54)

Suetônio (70-128) (falando da vida do imperador Cláudio)

“O Imperador expulsou de Roma os judeus que viraram causa permanente de desordem pela pregação de Cristo” (Vida de Cláudio, cap 25, p. 4)

Plínio, o Jovem (61-114) (escrevendo para o imperador Trajano)

“Os cristãos têm o hábito de se reunir em um dia fixo para rezar ao Cristo, que consideram Deus, para cantar e jurar não cometer qualquer crime, abstendo-se de roubo, assassinato, adultério e infidelidade”. (Carta a Trajano, cap. X, p. 96).

A Terra dos Rebeldes Religiosos

No século I, a Palestina tinha 1 milhão de habitantes. Em 63 a.C., os romanos converteram a Judéia em província romana. Para os judeus, a religião era uma ideologia nacional. No ano em que Jesus nasceu, 2 000 condenados foram crucificados.

1 - A Galiléia

Nessas montanhas, em Nazaré, região da Galiléia, norte de Israel, Jesus nasceu e viveu até depois dos 30 anos. Os camponeses da Galiléia eram conservadores e nacionalistas.

2 - Os Ascetas

Na beira do Mar Morto, a seita judaica dos essênios construiu o convento de Qumran, cujo cemitério tinha 1 200 túmulos. Em 1947, arqueólogos encontraram aí, escondidos em cavernas, os Manuscritos do Mar Morto.

3 - A Capital

O Templo de Jerusalém era o centro político e religioso da Judéia.

Reconstruído em 520 a.C. sobre as ruínas do Templo destruído pelos babilônios, abrigava o Sinédrio, o Conselho dos Sacerdotes do Templo.

4 - Os Suicidas

As ruínas da fortaleza de Massada onde, no ano 73, 960 judeus preferiram o suicídio a caírem prisioneiros romanos.

Apoteose Mística

O Pintor holandês Hans Memling (1430-1494) fixou no quadro “A Paixão de Jesus” todos os últimos episódios do mistério de Cristo. Veja o que ele imaginou:

1 - Jesus entra em triunfo em Jerusalém, no Domingo de Ramos.
2 - Expulsão dos fariseus do Templo.
3 - A última ceia.
4 - A meditação no Jardim de Getsâmane.
5 - O beijo de Judas
6 - A sentença de Pilatos.
7 - A flagelação.
8 - A coroa de espinhos.
9 - O início da Via Crucis
10 - Queda de Jesus.

11 - A crucificação, no monte Gólgota.
12 - Os apóstolos retiram o corpo da cruz.
13 - O enterro no Santo Sepulcro.
14 - A ressurreição.

O Arquiteto da Expansão do Cristianismo

A expansão do cristianismo deve muito ao judeu grego Saulo de Tarso (5 a.C. - 64 d. C.), um cidadão romano culto e cosmopolita que depois de perseguir muitos cristãos teve uma revelação e virou missionário incansável: São Paulo.

Esse é um personagem concreto, que deixou textos próprios, conhecidos pelos historiadores. Além disso, teve um papel decisivo.

À revelia de Tiago, o irmão de Jesus, chefe dos judeus cristãos de Jerusalém – para quem o cristianismo era uma reforma religiosa do “povo eleito” –, Paulo batizava judeus e gentios dispostos a adotar a nova religião, indistintamente. Durante 16 anos, percorreu 20 000 quilômetros a pé, em quatro grandes viagens, pregando e fundando igrejas na Síria, na Ásia, na Grécia e em Roma. Escreveu quatorze Epístolas, as cartas que enviava às suas igrejas, treze das quais foram anexadas aos Evangelhos.

Foi o primeiro autor cristão e o arquiteto da expansão mundial do cristianismo.

No ano 56, Paulo viajou a Jerusalém para enfrentar Tiago. Polemizou com os judeus cristãos e foi acusado de introduzir gentios no Templo. Preso pelos romanos, ficou dois anos na fortaleza de Cesaréia. Em 60, foi levado para Roma, onde pregava o apóstolo Pedro, a quem Jesus confiara a edificação da Igreja. Apesar de viver sob prisão domiciliar, sua casa em Roma transformou-se em centro missionário.

Em 64, um violento incêndio iniciado nos bairros pobres, dos cristãos, queimou Roma. Houve boatos de que teria sido encomendado por Nero, para reconstruir a cidade por completo. A exótica seita dos cristãos foi acusada e transformada em bode expiatório. Em meio a perseguições, torturas e suplícios, Pedro e Paulo foram presos. O primeiro foi crucificado. Paulo, como cidadão romano, teve o “privilégio” de ser decapitado.

Àquela altura, já havia mais cristãos fora da Palestina do que dentro. O culto do messias pacífico, cujo reino não era desse mundo e que oferecia salvação à humanidade toda, inclusive aos romanos, expandiu-se. Frente à ortodoxia judaica, o cristianismo “despolitizou-se”, diluindo sua identidade para ampliar o diálogo com as culturas. Em compensação, conquistou o mundo.

REVISTA SUPER INTERESSANTE
Edição 103 – Abril 1996

Nota: Imagem de Jesus Cristo não consta na Edição 103 desta Revista, só ilustrativa desse BLOG.
Se deseja compartilhar e divulgar estas informações, reproduza a integralidade do texto e cite o autor e a fonte. Obrigada, Hospital Espiritual do Mundo.

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