domingo, 2 de dezembro de 2012

POLICARPO, O AMIGO DE JESUS


 




Aprisionado no norte da África, onde se celebrizara pelo verbo inflamado e pelas ações dignificantes de caridade e de amor, Policarpo foi enviado em ferros a Roma com a família - mulher e dois filhinhos - bem como outros discípulos do Rabi, sendo atirados às feras, num dos turbulentos festivais de loucura. 

Altivo e de ascendência nobre, em razão de ser romano de nascimento, foi-lhe proporcionado ensejo de renunciar à fé, retornando ao culto dos ancestrais, providência que pouparia a sua e a existência da família. Embora de alma dilacerada pelos sofrimentos que lhes seriam impostos, optou pela fidelidade à consciência, sendo martirizado com os seus. 

Conta-se que, antes de ser atirado à arena, em face da sua inteireza moral, por ordem superior foi supliciado pela soldadesca, enquanto a mulher e os filhinhos eram submetidos a humilhações inomináveis. Igualmente portadora de alta espiritualidade, Flamínia, a companheira digna, ao invés de atemorizar-se, mais confiou nos desígnios divinos, revestindo-se de coragem e de fé inquebrantáveis, que surpreendiam aqueles insensíveis algozes da sua firmeza moral. 

No dia em que deveriam servir de repasto aos leões, leopardos e tigres esfaimados, Policarpo foi jogado no meio dos companheiros atemorizados, lanhado e esgotado nas forças pelos flagícios sofridos, e mesmo assim, tentou recompor-se, para transmitir ânimo àqueles que, não obstante o amor e a confiança no Mestre, choravam apavorados temendo o próximo terrível testemunho que os aguardava. 

O subterrâneo infecto por dejetos e cadáveres não removidos tornara-se lôbrego e nauseante. Aqueles que ali se encontravam haviam perdido praticamente o discernimento e, hebetados uns pelo medo, agitados outros pelo desespero, estremunhados diversos, vendo-se abandonados, subitamente sentiram a mudança da atmosfera, quando ventos inesperados que sopravam no ardente mês carrearam o doce perfume dos loendros dos arredores abertos aos cálidos beijos do Sol. 

De imediato, uma psicosfera de paz invadiu o recinto sombrio e fez-se um significativo silêncio, enquanto o rugir dos animais misturava-se à algazarra desmedida da multidão agitada pelos corredores, assomando às arquibancadas e galerias, aplaudindo o espetáculo burlesco que sempre precedia às matanças desordenadas. 

Foi, nesse momento, que o apóstolo, recuperando as energias e inspirado pelos Emissários do Senhor, convidou o magote assustado à reflexão e à prece, elucidando:

- Morrer, por Jesus, é a honra que agora nos é concedida. Enquanto Ele, que não tinha qualquer culpa, doou a Sua vida, para que a tivéssemos em abundância, convida-nos a que ofereçamos a nossa, a fim de que outros, que virão depois, igualmente possuam-na. Morrer por amor é glória para aquele que se imola. Enquanto o mundo nos surpreende com as suas ilusões, sombras e traições dos nossos sentidos, a morte é vida perene em luz e felicidade. Não nos separaremos nunca! Avancemos juntos, portanto, pois que o Mártir do Gólgota nos aguarda em júbilo. O nossa sangue irá fertilizar o solo dos corações, a fim de que se expanda a nossa fé, modificando a Terra e elevando-a ao estágio de mundo de reabilitação. 

Ele fez uma ligeira pausa, dominado pela emoção que contagiava os ouvintes atentos, inebriando mentes e corações de esperanças na Imortalidade, e, de imediato, dando seguimento: - É fácil morrer, especialmente quando se soube viver transformando urze em flores e calhaus em estrelas. Cantemos, dominados pela infinita alegria de doar o que possuímos de mais valioso, que é a vida física. Jesus, que nos ama, aguarda por nós! 

A emoção era geral. Uma aragem de paz tomou-os a todos. A esposa acercou-se-lhe com um filhinho no regaço e o outro segurando-lhe as vestes, e tocou-o. Abraçando-a com lágrimas, ele agradeceu-lhe a coragem, prometendo que prosseguiriam amando-se depois da sombra da noite... 

Os portões foram abertos estrepitosamente. Soldados furiosos com lanças e chibatas empurraram os prisioneiros para o centro da arena. A gritaria infrene tomou conta da massa alucinada, que subitamente silenciou, quando eles se adentraram cantando um hino de exaltação a Jesus. 

Em seguida, os animais selvagens foram atirados na sua direção e, a pouco e pouco, as patadas violentas e as dilacerações pelos dentes afiados, foram despedaçando os corpos, que tremiam exangues na areia, colorindo-a do rubro fluido orgânico. Policarpo, a mulher e os filhinhos, formando um todo em vigoroso abraço de sustentação moral, foram alcançados e despedaçados... Após as primeiras dores uma anestesia total tomou-lhes a consciência e pareceram adormecer, enquanto o espetáculo dantesco prosseguia... 

Embora remanescesse débil claridade do Sol poente no áspero verão de agosto, a noite avançava, deixando aparecer as primeiras estrelas faiscantes como olhos que observassem as inconcebíveis calamidades humanas. 

E quando a noite fez-se total, após o público insano ter abandonado o Circo, as feras serem recolhidas, os corpos começaram a ser atirados sobre as carroças conduzidas por escravos embriagados, vestidos de faunos e portando comportamentos obscenos, de modo a prepararem o espaço para o dia seguinte e suas novas degradações, do Infinito incomparável e diáfana luz desceu na direção da arena, servindo de passarela para uma coorte de seres angélicos que, entoando sublimes canções, aproximou-se do lugar do holocausto. 

À frente, estava Jesus, nimbado de sideral luminosidade, que recolheu Policarpo e família, enquanto os demais martirizados eram retirados dos últimos despojos pelos Seus embaixadores em clima de alegria e gratidão a Deus.

Despertando, e deslumbrando-se com o Mestre que o envolvia em claridades iridescentes, Policarpo abraçou-o, enquanto Ele confirmou: - Amigo querido, já transpuseste a porta estreita. Agora vem com os teus para o meu reino que te espera desde há muito! 

Policarpo, depois daquela doação a Jesus, retornou à Terra diversas vezes, sempre quando o pensamento do Mestre sofria adulterações, sendo a sua última jornada na condição de seareiro do Espiritismo, nele restaurando a mensagem cristã que havia sido aviltada através dos tempos.
 

Fonte:Entre os dois mundos. Divaldo Pereira Franco. cap. 2. 

O Hospital Espiritual do Mundo agradece os irmãos do SITE MENSAGENS ESPÍRITAS, pelo artigo que engrandeceu este espaço de aprendizagem e encontros Sagrados.  

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2 comentários:

  1. Hoje também no coração interior da África continuam ceifando a vida de milhares de seguidores de Cristo e da Sua doutrina - Paz e amor.

    No caso de Policarpo fiquei com uma dúvida muito grande. Porque não fez a segunda opção...poupava-se a ele e aos familiares.Morto não resolveu nada.

    Por vezes devemos fingir enganando os traidores mas procurando que eles aceitem a Lei de Deus e o Seu amor a todos os seres humanos não os forçando a seguir os caminhos da Boa Nova

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