quarta-feira, 28 de novembro de 2012

CARTAS PSICOGRAFADAS TRAZEM NOTÍCIAS DO ALÉM

Orlando Carneiro em sessão de psicografia


“Se eu pudesse ao menos me despedir”. “Se ele pudesse explicar como tudo aconteceu, para facilitar nossa compreensão”. “Se eu pudesse pedir perdão”. Estes são desejos frequentes de quem perdeu alguém que amava. Aqueles que buscam na fé a força para seguir a vida, tentando superar a dor e o vazio deixados pela morte de um ente querido, recebem atendimento em grupos de apoio de várias religiões. Por todo o Brasil, cada dia mais dessas famílias encontra alívio e respostas para algumas de suas perguntas em cartas psicografadas, que tentam mostrar que a vida continua, de alguma forma, no plano espiritual.

Orlando Carneiro é um dos médiuns que faz o contato entre as famílias e os desencarnados, há 25 anos divulgando o espiritismo das obras de Allan Kardec. Ele viaja até São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná várias vezes por ano, para atender o maior número possível de pessoas. Em Curitiba ele atua uma vez por mês, no "Grupo Espírita recanto da Prece" (veja aqui a agenda do médium). http://www.portasdoamor.com.br/agenda-de-psicografias/

O atendimento mais recente foi no dia 30 de setembro. A fila começou a formar-se na entrada do estabelecimento por volta das 4h. As 130 senhas para atendimento foram distribuídas às 6h30. A maior parte de pessoas na fila, tanto neste dia quanto nos outros, é composta por pais que perderam seus filhos.

Na equipe do médium há pessoas que passaram pela mesma dor das famílias que são atendidas. É o caso de Marlei, que viu a belíssima filha Karol, de pouco mais de 20 anos, morrer oito anos atrás, vítima de um grave problema de saúde. “Nos três primeiros anos eu perdi o chão. Depois encontrei na doutrina espírita a força para me levantar. Recebi cartas dela e hoje também trabalho aqui”, conta.

Atendimento
No auditório, homens e mulheres de todas as idades, com olheiras fundas e olhos vermelhos de tanto chorar, são recebidos com preces, passes e palestras. Às 7h30, Orlando começa a atender as 130 pessoas, individualmente, para entender o que elas vieram buscar. O processo demora a manhã inteira. As famílias já levam água e livros espíritas, sabendo que terão que esperar. Um filme que conta a história de famílias como as que estavam ali presentes, e que encontraram alento nas cartas de Chico Xavier, é exibido e emociona.

Na cantina, para passar o tempo, estranhos começam a se conhecer e a desabafar. Izolda, que foi ao centro espírita pela primeira vez, conta que passou 46 dias na UTI com a filha Ana Carolina, grávida de gêmeos, há dois anos. A jovem, acometida por uma grave doença gestacional, perdeu as crianças e não resistiu. 

A mãe lembra das últimas conversas com a filha, e dos planos que a jovem fez de viajar com sua “grande companheira”, como ela mesma descrevia, assim que saísse a aposentadoria da mãe. Depois da perda, Izolda conheceu duas professoras aposentadas que organizam excursões, seguindo os conselhos da filha, e as três foram as detentoras das primeiras senhas de atendimento naquele dia. 

Uma das amigas de Izolda perdeu o marido há 15 anos. O casal planejava os festejos de Natal quando o homem sofreu queimaduras por todo o corpo em um acidente de trabalho. No hospital, caminhando e falando, ele tinha um diagnóstico positivo da equipe médica. Entretanto, sofreu uma parada cardíaca nos braços da esposa e morreu.

“JESUS CRISTO, EU ESTOU AQUI”

Fernanda Deslandes

Quando termina o atendimento individual, Orlando vai para o palanque do auditório, que permanece coberto de flores, e começa a psicografar as cartas. Ele tira os óculos e passa horas escrevendo, com uma das mãos cobrindo parcialmente os olhos. Enquanto isso, o público ouve testemunhos, palestras, e músicas que também compõem o roteiro de evangélicos e católicos.

Quando a psicografia acaba, o público está de pé, de mãos dadas, cantando “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos, em coro. Todos, ansiosos, são informados de que, como dizia Chico Xavier, “o telefone só toca de lá para cá”, ou seja, não tem como definir quem irá se comunicar com os que ficaram. As nove cartas psicografadas começam a ser lidas na frente de todos, e quem, ao final, não recebe nenhuma comunicação, sai com a certeza de que foram priorizados pelos espíritos aqueles parentes que sofriam mais.
Entre os que tiveram a sorte de ouvir uma mensagem estava Izolda. Ana Carolina explicou para a mãe que o casal de gêmeos está crescendo no plano espiritual e já está com dois aninhos. Ela contou que sabia dos riscos quando ficou grávida, mas que optou ainda assim por tentar trazer os filhos ao mundo. Izolda caiu aos prantos, bem como os poucos da plateia que sabiam de sua história. Outras duas mães receberam notícias dos filhos que cometeram suicídio. Eles pediram perdão e explicaram seus motivos.

O público também ficou emocionado ao ouvir o conteúdo da carta que uma jovem recebeu do namorado Mayros, vítima de um acidente de trânsito na BR-163, em Campo Grande, em dezembro do ano passado. A carta relatou que ele ficou sem ação quando uma camionete veio em sua direção. Todos o que foram chamados ganharam flores, a carta psicografada que receberam e uma gravação. Detalhes fazem com que ninguém duvide da veracidade.

LOUISE MAEDA E ANA CARON NÃO GUARDAM RESSENTIMENTOS
Louise Maeda: crime causou comoção em Curitiba.

No atendimento realizado em agosto, duas cartas psicografadas chamaram a atenção. Uma era de Ana Cláudia Caron, que em 2007 foi sequestrada por dois adolescentes em Curitiba, levada até Almirante Tamandaré onde foi estuprada e morta com um tiro na boca. Ela ainda teve o corpo queimado pelos assassinos.

Aos pais, na carta, Ana contou que compreendeu e tolera tudo o que passou. E se mostrou preocupada com a família, que ainda sofre com a tristeza, e contou que trabalha com jovens no plano espiritual em um movimento pela paz.

Do mesmo grupo estaria participando Louise Sayuri Maeda, que mandou a segunda carta para a mãe Daisy e o pai no mesmo dia e ainda referiu-se à amiga Ana Cláudia. Louise foi morta a tiros e jogada em um rio por colegas de trabalho, no ano passado, logo depois de sair da empresa, no Shopping Mueller, a algumas quadras de onde Ana foi sequestrada quatro anos antes.

Louise contou que não imaginou que havia uma armação contra ela, e por isso entrou do carro dos colegas no dia do crime. Hoje ela relata que ainda guarda uma mágoa, uma tristeza pelo ocorrido, mas que não tem ódio ou ressentimento dos autores do homicídio. Ela afirma que era uma alegria trabalhar no shopping e se sentir útil para as pessoas, e agradeceu pela mãe ter lhe guiado pelo caminho do bem.

Outra frequentadora do centro espírita é Monik Pergorari Lima, na esperança de receber uma mensagem do namorado Osiris Del Corso. O casal caminhava por uma trilha no Morro do Boi, em Matinhos, em 2009, quando foi surpreendido por um assaltante. Osiris foi assassinado. Ela foi baleada, abusada sexualmente e aguardou por socorro por mais de 24 horas. Hoje, Monik faz tratamentos para voltar a andar.


IMAGENS DO site Paraná Online

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