terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Auto-Iniciação


Hoje em dia,
muitas pessoas
falam em iniciação.
 Todos querem ser iniciados.
 Mas entendem por iniciação
uma alo-iniciação,
uma iniciação por outra pessoa,
por um mestre,
um guru.
Esta alo-iniciação é uma utopia,
 uma ilusão,
uma fraude espiritual.
Só existe auto-iniciação.
O homem só pode ser iniciado por si mesmo.
O que o mestre,
o guru,
pode fazer é mostrar o
caminho por onde alguém se pode auto-iniciar;
pode colocar setas ao longo do caminho,
setas ao longo
 da encruzilhada,
setas que indiquem a direção
 certa que o discípulo deve seguir para chegar
ao conhecimento da verdade sobre Si mesmo.
Isto pode e deve o mestre fazer - suposto que ele
 mesmo seja um auto-iniciado.
Jesus, o maior dos Mestres que a
 humanidade ocidental conhece, ao
menos aqui, durante três anos consecutivos,
mostrou a seus discípulos o caminho
 da iniciação, o que ele chama o
"Reino dos Céus", mas não iniciou
nenhum dos seus discípulos.
Eles mesmos se auto-iniciaram na gloriosa
manhã do domingo de Pentecostes,
às 9 horas da manhã - como diz Lucas nos Atos dos Apóstolos.
Mas esta grandiosa auto-iniciação aconteceu só
 depois de 9 dias de profundo silêncio e meditação;
120 pessoas se auto-iniciaram, sem nenhum mestre
externo só dirigidas pelomestre interno de cada um,
pela consciência de seu próprio EU divino,
da sua alma do seu Cristo Interno.
 E esta auto-iniciação do primeiro Pentecostes,
em Jerusalém, pode e deve ser
realizada por toda pessoa.
Mas acima de tudo, o que quer dizer Iniciação?
Iniciação é o início na experiência da verdade sobre si mesmo.
O homem profano vive na ilusão sobre si mesmo.
Não sabe o que ele é realmente.
O homem profano se identifica com o seu corpo,
com a sua mente com as suas emoções.
E nesta Ilusão vive o homem profano
a vida inteira, 30, 50, 80 anos.
Não se iniciou na verdade sobre si mesmo, não
possui autoconhecimento,
 e por isso não pode entrar na auto- realização.
O que deve um homem profano
 fazer para se auto-iniciar?
Para sair do mundo da ilusão sobre
SI mesmo e entrar no mundo da verdade?
 Deve fazer o que fez o primeiro grupo de
 auto-iniciados, no ano 33,
 em Jerusalém, isto é, deve aprender a meditar,
ou cosmo-meditar.
O iniciado dá tudo e não espera nada do mundo.
Ele já encerrou as contas com o mundo.
Pode dar tudo sem perder nada.
O auto-iniciado é um místico não um místico
de isolamento solitário,
mas um místico dinâmico e
solidário, que vive no meio
do mundo sem ser do mundo.
Onde há plenitude, aí há um transbordamento.
O homem plenificado pelo
autoconhecimento e pela
auto-realização transborda a sua plenitude,
consciente ou inconscientemente,
saiba ou não saiba,
 queira ou não queira.
Esta lei cósmica funciona infalivelmente.
Faz bem pelo fato de ser bom, de viver em harmonia
com a alma do Universo.
Por isto, para fazer bem aos outros e à humanidade,
não é necessário nem é suficiente
fazer muitas coisas,
 mas é necessário e suficiente ser bom,
 ser realizado e plenificado do seu EU central,
conscientizar e vivenciar de acordo com
o seu EU central, com o seu Cristo Interno.
A plenitude da consciência mística da
 paternidade única de
 Deus transborda irresistivelmente na vivência ética
da fraternidade universal dos homens.
Para ter laranjas - laranjas verdadeiras
- não é necessário fabricá-Ias.
É necessário e suficiente ter uma laranjeira real e
mantê-la forte e vigorosa.
Nem é necessário ensinar a laranjeira como fazer laranjas,
ela mesma sabe, com infalível certeza, como fazer flores e frutos.
 Assim, toda a preocupação de querer fazer bem aos outros sem
 ser bom é uma ilusão tão funesta como o esforço de querer
 fabricar uma laranja verdadeira sem ter uma laranjeira.
Mais importante que todos o fazer é o ser.
Onde não há plenitude interna não pode haver
 transbordamento externo.
Para fazer o bem aos outros deve o homem ser
realmente bom em si mesmo.
Que quer dizer ser bom?
Ser bom não é ser bonachão, nem bonzinho,
nem bombonzinho.
Para ser realmente bom deve o homem estar em perfeita
harmonia com as leis eternas da verdade, da justiça, da
honestidade, do amor, da fraternidade, e viver de acordo
 com esta suaconsciência.
Todo o fazer bem sem ser bom é ilusório, assim como
qualquer transbordamento é impossível sem haver plenitude.
O nosso fazer bem vale tanto quanto nosso ser bom.
O ser bom éautoconhecimento e auto-realização.
Somente o conhecimento da verdade sobre
si mesmo é libertador; toda e qualquer ilusão
sobre si mesmo é escravizante.
Os mais ruidosos sucessos sem a realização interna são
 deslumbrantes vacuidades; são como
bolhas de sabão - belas por fora, mas
cheias de vacuidade por dentro. 1 % de ser bom
 realiza mais do que 100 % de fazer bem.
Auto-iniciação é essencialmente uma questão
de ser e não de fazer.
Esta plenitude do ser não se realiza pela simples
solidão, mas pelo revezamento de introversão e
extroversão.
O homem deve, periodicamente, fazer o seu ingresso
dentro de si mesmo, na solidão da meditação e depois
fazer o egresso para o mundo externo, a fim
de testar a força e autenticidade do seu ingresso.
Todo auto-iniciado consiste nesse ingredir e nesse
 egredir, nessa implosão mística e nessa explosão ética.
Os discípulos de Jesus fizeram três anos de
aprendizado e nove dias de meditação depois se
auto-iniciaram.
Descobriram a verdade libertadora sobre si mesmos.
A verdade que os libertou da velha ilusão de se identificarem
com o seu corpo, com a sua mente, com as suas emoções,
saíram das trevas da ilusão escravizante,
e ingressaram na
luz da verdade libertadora:
"Eu sou espírito, eu sou alma, eu e o
Pai somos um, o Pai está em mim e eu estou no Pai...
o Reino dos Céus está dentro de mim. "
E quem descobre a verdade sobre si mesmo,
liberta-se de todas as inverdades e ilusões.
 Liberta-se do egoísmo, da ganância, da luxúria,
da vontade de explorar, de defraudar os outros.
Liberta-se de toda injustiça, de toda desonestidade,
de todos os ódios e malevolências - de todo o mundo caótico
 do velho ego.
 O iniciado morre para o seu ego ilusório
e nasce para o seu EU verdadeiro.
O iniciado dá o início, o primeiro passo, para
 dentro do "Reino dos Céus".
Começa a vida eterna em plena vida terrestre.
Não espera um céu para depois da morte, vive
no céu da verdade, aqui e agora - e para
sempre. Isto é auto-iniciação.
Isto é autoconhecimento.
Isto é auto-realização.

HUBERTO ROHDEN

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