terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Joio no Meio de Trigo

Todo Homem tem o direito de Realizar até o fim o seu ciclo Evolutivo.

Como outras parábolas, esta é também paradoxal, se focalizarmos apenas o seu símbolo material.
Imagine um fazendeiro que semeasse trigo ou outra semente qualquer em seu campo e proibisse os trabalhadores de arrancarem o mato, as ervas daninhas que aparecem no meio da plantação.
Mas como o principal não é o simbolizado material e sim o simbolizado espiritual, a proibição de arrancar o joio do meio do trigo contém uma filosofia cósmica de grande profundidade e sublimidade.

O campo é o mundo da humanidade.
O trigo são os bons.
O joio são os maus.
Tanto estes quanto aqueles são o que são, graças ao uso ou abuso do seu livre arbítrio.
Deus não fez nenhum homem moralmente bom ou mal.
Deus dá a cada um a possibilidade de ele se fazer bom ou mal.
Todo homem pode fazer-se melhor ou pior do que Deus o fez.
O homem sai das mãos de Deus neutro, apenas potencialmente bom ou mal. 
Um ser dotado de livre arbítrio não pode ser criado atualmente bom nem mal, o que seria a negação do livre arbítrio.
Esta neutralidade contém em si a semente ou potencialidade, para uma criatividade boa ou má. 
A brotação ou atualização dessa dupla potencialidade corre por conta do homem.
Onde há livre arbítrio não há automatismo compulsório.
No mundo infra hominal não existe essa bipolaridade potencial.
O mundo mineral, vegetal ou animal se acha em permanente e imutável automatismo. 
Nenhum ser infra hominal pode se tornar moralmente bom ou mal. 
O livre arbítrio põe o homem numa bifurcação positiva-negativa.
Ele é o maior privilégio do homem e também o seu maior perigo, porque entrega ao homem as chaves do céu e do inferno, da luz e das trevas, do ser-bom ou ser-mal.
Deus respeita incondicionalmente o livre arbítrio do homem. 
Ele não obriga ninguém a ser bom e não impede ninguém de ser mal.
Jesus não impediu que Judas Iscariotes fosse traidor e suicida e nem forçou Maria Madalena a se converter.
Pelo livre arbítrio possui o homem uma criatividade positiva ou negativa.
E é vontade de Deus que todo homem desenvolva até o fim este seu poder criador; que tenha plena e permanente liberdade de evolução rumo às alturas ou então rumo ao abismo.
Ora, se o próprio Deus não impede o homem em sua evolução positiva ou negativa e nem extermina nenhum mal por ser mal, como poderia o homem fazer o que Deus não faz?
Verdade é que o próprio homem pode auto-exterminar-se se não se tornar bom antes do termo final de seu ciclo evolutivo; mas esse extermínio não deve vir de fora dele.
Tamanha é a insipiência de certos homens que tentam arrancar o joio do meio do trigo para que morram todos os maus e sobrevivam tão somente os bons que se tornam bons matadores.
Segundo essa filosofia, devia a terra ser habitáculo exclusivo dos bons matadores, livre e limpo dos maus matados...
Se é grande a boa vontade desses "bons", nula é a sua sabedoria.
O Evangelho do Cristo é a apoteose da suprema sabedoria cósmica: quer um Ser bom por espontânea liberdade e não um Ser bom por compulsória necessidade. 
O homem deve ser intrinsicamente bom em virtude de um querer próprio e não apenas extrinsicamente bom em virtude de um querer alheio.
O Ser bom deve ser fruto de um voluntário querer e não de um compulsório dever.
O homem deve ter todas as possibilidades para ser mal e apesar disso ser bom, livre, liberrimamente bom.
Mas então dirá alguém: neste caso, o mal tem os mesmos direitos que o bom e se há igualdade de direitos, que vantagem há de ser bom? Não equivale isto a matar todo o estímulo para ser bom? Não é isto a morte de toda a pedagogia e educação espiritual?Essa falsa filosofia através dos séculos e milênios tem tentado exteminar os maus e fazer sobreviver somente os bons; Cruzadas, Inquisições, guerras de religião, ódios sectários, violências de toda espécie margeiam o caminho do nosso cristianismo a mais de 2000 anos, isento da verdadeira sabedoria do Cristo.
Não é verdade que o destino dos bons e dos maus seja o mesmo, embora todos tenham os mesmos direitos de realizar livremente o seu destino.
O destino de uns e outros e diametralmente oposto: vida eterna ou morte eterna; integração na Lei Divina ou desintegração; realização ou desrealização.
Os bons se auto realizam, os maus se auto desrealizam. 
Ninguém tem o direito de impedir que alguém se realize pelo bem ou se desrealize pelo mal.
Mas perguntará alguém: para que serve então a nossa pedagogia? 
Se eu não posso fazer o bem a ninguém para que então esse desperdício de esforços educativos e moralizadores?
Verdade é que ninguém pode obrigar alguém a ser bom, mas o educador pode facilitar a seu educando tornar-se bom.
O educador não pode causar o ser bom para seu educando, mas pode condicioná-lo a ser bom, pode mostrar-lhe o caminho, pode remover obstáculos que atravancam o caminho e assim facilitar a passagem a seu educando, mas nunca terá a certeza de que seus esforços converteram o educando. 
Pode o melhor dos educadores ter zero resultado com seu educando, assim como Jesus teve zero resultado com Judas.Perante o livre arbítrio alheio, tudo é possível, nada é impossível e nada é previsível. 
O livre arbítrio não é uma cadeia de elos onde o elo precedente obrigue o elo subseqüente a mover-se. Ele é um elo isolado e autônomo, independente de qualquer causador externo.
A única coisa certa que o educador pode e deve fazer é auto educar a sua própria substância a tal ponto que nenhuma circunstância alheia o torne vaidoso, quando o resultado for positivo ou frustrado quando for negativo.
Se um educador auto educado atingir essa libertação total de si mesmo, essa total desescravização de toda e qualquer vaidade complacente em face dos sucessos externos e essa total serenidade em face dos insucessos, então Ele é um poderoso fator para criar auras propícias que facilitem outros homens a serem bons. Um homem assim, pleniliberto de qualquer tirania do ego, não derrotado pela vaidade do sucesso, nem pela tristeza do insucesso, esse homem é um gigantesco acumulador de energia espiritual, quer saiba ou não.
E como nenhuma energia se perde e todas as energias se transformam, essas energias espirituais por ele acumuladas se transformam e se irradiam beneficamente e podem ser captadas por outros seres livres, conhecidos, desconhecidos, próximos ou distantes, presentes ou futuros, no planeta Terra ou em longínqua galáxia cósmica e então esse homem é um benfeitor dahumanidade telúrica ou de outras humanidades.
Ele atua por indução, como diríamos em física, atua por transferência de energias invisíveis.Nesse sentido dizia Mahatma Gandhi: "Quando um único homem atingir a plenitude do amor, neutraliza o ódio de muitos milhões".E Ramana Maharishi dizia: 
"O único modo de fazer bem aos outros é ser bom". A parábola não diz que Deus extermina o joio, os maus, mas estes se exterminam a si mesmos pela não integração na Lei Cósmica.
Onde impera a onipotência do livre arbítrio é possível tanto a integração do indivíduo no Universal como também a sua desintegração, que no Evangelho se chama "morte eterna". 
É um dos mais funestos erros tradicionais da nossa teologia afirmar que a alma humana é imortal quando ela é apenas imortalizável.Nenhuma criatura é imortal. 
Imortal É somente o Criador.
As criaturas são mortais ou imortalizáveis, enquanto passarem pelo nascer, viver, morrer e renascer, eis o ciclo da Lei.
Os que ainda pensam em termos de um Deus pessoal, individual, não se conformarão com estas verdades. Mas o Evangelho do Cristo como também as grandes filosofias da humanidade sabem que Deus não é uma entidade individual.Deus é a Lei Cósmica Universal.
Os que voluntariamente se integram nessa lei se imortalizam; os que voluntariamente não se integram nela se desintegram ou se auto-exterminam.

Fonte: Sabedoria das Parábolas
Huberto Rohden 
Imagem: Claudio Gianfardoni

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