domingo, 28 de novembro de 2010

O Aprendiz Desapontado - Neio Lúcio

Um menino que desejava ardentemente residir no Céu, numa bonita manhã, quando se encontrava no campo, em companhia de um burro, recebeu a visita de um anjo. 
Reconheceu, depressa, o emissário de Cima, pelo sorriso bondoso e pela veste resplandecente. 
Alucinado de júbilo, o rapazelho gritou: 
-Mensageiro de Jesus, quero o paraíso! Que fazer para chegar até lá?! 
O anjo respondeu com gentileza: 
-O primeiro caminho para o Céu é a obediência e, o segundo é o trabalho. 
O pequeno, que não parecia muito diligente, ficou pensativo. 
O enviado de Deus então disse: 
-Venho a este campo, a fim de auxiliar a Natureza que tanto nos dá. 
Fixou o olhar mais docemente na criança e rogou: 
-Queres ajudar-me a limpar o chão, carregando estas pedras para o fosso vizinho? 
O menino respondeu: 
-Não posso. 
Todavia, quando o emissário celeste se dirigiu ao burro, o animal prontificou-se a transportar os calhaus, pacientemente, deixando a terra livre e agradável. 
Em seguida, o anjo passou a dar ordens de serviço em voz alta, mas o menino recusava-se a contribuir, enquanto o burro ia obedecendo. 
No instante de mover o arado, o rapazinho desfez-se em palavras feias, fugindo à colaboração. O muar disciplinado, contudo, ajudou, quanto pôde, em silêncio. 
No momento de preparar a sementeira, verificou-se o mesmo quadro: o pequeno repousava e o burro trabalhava. 
Em todas as medidas iniciais da lavoura, o pesado animal agia cuidadoso, colaborando eficientemente com o lavrador celeste; entretanto, o jovem, cheio de saúde e leveza, permaneceu amuado, a um canto, choramingando sem saber por que e acusando não se sabe a quem. 
No fim do dia, o campo estava lindo. 
Canteiros bem desenhados surgiam ao centro, ladeados por fios de água benfeitora. 
As árvores, em derredor, pareciam orgulhosas em protegê-los. O vento deslizava tão manso que mais se assemelhava a um sopro divino cantando nas campânulas do matagal. 
A Lua apareceu espalhando intensa claridade. 
O anjo abraçou o obediente animal, agradecendo-lhe a contribuição. Vendo o menino que o mensageiro se punha de volta, gritou, ansioso: 
-Anjo querido, quero seguir contigo, quero ir para o Céu!... 
O Emissário divino respondeu, porém: 
-O paraíso não foi feito para gente preguiçosa. Se desejas encontrá-lo, aprende primeiramente a obedecer como o burro que soube receber a bênção da disciplina e o valor da educação. 
E assim esclarecendo subiu para as estrelas, deixando o rapazinho desapontado, mas disposto a mudar de vida. 

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Alvorada Cristã. 
Ditado pelo Espírito Neio Lúcio. 
11a edição. Rio de Janeiro: FEB, 1996.

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