segunda-feira, 14 de março de 2011

Especial Cura pela Fé II - Reportagem

12 Horas com João

Texto: Eliana Fonseca

Fotos: Nélio Rodrigues

A Viver Brasil acompanhou um grupo de Romeiros até Abadiânia (GO) para ver de perto o trabalho do médium João de Deus, conhecido internacionalmente pelas curas espirituais.

À procura de um milagre, a senhora de cabelos grisalhos e roupas brancas, aparentando pouco mais de 60 anos, prepara-se para a cirurgia. Primeiro, ela indica, com uma das mãos, o olho esquerdo como o motivo de sua consulta. A ajudante, espécie de enfermeira auxiliar, informa que a cirurgia será no olho direito. Ela manifesta que está confusa com a indicação. Mais uma vez a moça reitera que é o outro olho, o são, que de­ve ser operado. Ela pare­ce entender a não-lógica. Quando a cirurgia é iniciada, um gemido baixo, quase imperceptível, entrega o que pode ser pequeno desconforto ou quem sabe reza, quando um instrumento cortante raspa o canto do olho e também a retina. Não há sangue e uma pequena quantidade de secreção é retirada. “Está operada”, sentencia uma voz.
A instrumentação é cirúrgica: há bisturi, tesoura, algodão, agulha, álcool e faca pequena, semelhante a um canivete, que destoa dos outros objetos. Não estamos em nenhuma clínica oftalmológica ou hospital. Não há médicos, tampouco anes­tesia. Tudo acontece no salão principal da Casa de Dom Inácio, complexo de 12 mil m2. A senhora operada de enfermidade no globo ocular é apenas uma das centenas de pessoas que estão em Abadiânia, cidade goiana a 115 km de Brasília. 

É uma multidão formada por pessoas de branco, que espera pacientemente pelo atendimento feito por João Teixeira de Farias, conhecido internacionalmente como João de Deus, um senhor de 67 anos. Ele, que já foi garimpeiro e alfaiate, há mais de 40 anos é médium: recebe pessoas de todo o mundo à procura 8 de cura para cânceres, cardiopatias, doenças neurológicas, degenerativas, ortopédicas ou as que nem sequer têm diagnóstico. Ninguém sai da casa sem ser atendido. E o médium não cobra nada por isso.
 Olegas Orlovas: dois documentários com o médium e prepara terceiro Por: Nélio Rodrigues

Durante três dias a cada semana, das 8h às 17h, João deixa de ser João. Explica-se: o homem empresta seu corpo para mais de 30 entidades espirituais e faz cirurgias visíveis e invisíveis. No mundo dos espíritas, a lógica não é a convencional. As cirurgias acompanham esse conceito. A raspagem no olho é indicada para várias doenças, assim como a intervenção com uma tesoura introjetada quase inteiramente pelo nariz.  João opera, prescreve, orienta. Mas, se qualquer um dos pacientes se encontrar com ele no dia seguinte, fora daquele ambiente, não adianta pedir detalhes. Ele não tem qualquer consciência do que executa. Na linguagem espírita é o que chamam de médium inconsciente. “Ele serve de instrumento ao mundo dos espíritos e muitas vezes não se lembra de nada do que aconteceu”, explica o diretor da Federação Espírita Brasileira, Geraldo Cam­petti. Chico Lobo, ex-prefeito da cidade e voluntário atual da casa, tenta esclarecer o paradoxo entre o médium e o homem. “São as entidades que operam. O João tem horror a sangue e des­maiaria se tivesse de fazer uma cirurgia”, diz antes de nos levar ao médium.
O casal de portugueses, da Ilha da Madeira, Maria Lígia e Serafim
Por: Nélio Rodrigues.

É preciso autorização dupla: primeiro temos que pedir a João, ainda não incorporado, para iniciarmos a reportagem. Depois, o pedido é feito à entidade espiritual. Encontramos com os dois em menos de 30 minutos. O primeiro é homem comum, com passos curtos, fala mansa. Também usa roupas brancas – no espiritismo, a cor proporciona melhores energias. Ele surge sem alarde na sala simples, que tem como principal mobília um jogo de sofás e, numa mesa pequena, uma bandeja com várias frutas. Sentado num sofá menor, João inicia a conversa curta e se anima com o fato de sermos de Minas Gerais, seu estado natal. É natural de Januária. É o próprio médium quem explica: quando não está incorporado, é um cidadão comum que gosta de ficar em casa com a família, lidar com atividades rurais e de bom bate-papo com amigos. A incorporação precisa de um ambiente e há todo trabalho de equipe para que isso aconteça. Fora desse ambiente, nada acontece.
João teve sua primeira incorporação ainda na adolescência e, desde então, na conta de sua equi­pe, já são mais de 10 milhões de pessoas atendidas. Quando não está em Aba­diânia, pode estar em Canela (RS) ou em viagens ao exterior. Já teve documentário mostrado pela Dis­co­very Channel e por outras redes televisivas, mesmo assim, diz já ter sofrido perseguição. “No Brasil, isso acontece não só em relação ao espiritismo. Por mais que queiram ne­gar, existe preconceito”, diz. Ainda na sala, antes da incorporação, João decreta: a reportagem está autorizada.
Frequentadores oram enquanto esperam por atendimento do médium 
Por: Nélio Rodrigues

Em poucos minutos, em outro ambiente, ele se transforma em Au­gusto de Almeida, o espírito de um médico com voz firme e autoritária. Também pode incorporar Oswaldo Cruz, dr. Fritz, dom Iná­cio de Loyola, Bezerra de Menezes. A fila para atendimento traz pessoas de diferentes países. É possível encontrar lituano, português, húngaro, alemão, norte-americano. As religiões também são as mais diversas, mas há predominância de católicos e espíritas. Sen­tado numa cadeira com encosto alto, o médium é surpreendente. “Filho, vou te receitar um remédio, mas é preciso que você pare com as drogas”, diz a um rapaz estrangeiro que precisa de intérprete para entender o que João fala.

 Operação nos olhos é indicada para cura de várias doenças 
Por: Nélio Rodrigues.

Pequenas ou grandes doenças, todos querem uma solução. Alguns acreditam mais na cura, outros só acompanham, de longe. É o caso do médico Benedito de Lacerda, 58, oftalmologista goiano que foi à cida­de para a consulta de sua mulher, a dentista Maria de Fátima Fi­gueiredo, 52, com suspeita de  tumor no intestino. Lacerda, que é agnóstico, mede bem as palavras para falar no que acredita. “A medi­cina, atualmente, valoriza a do­ença e não o doente”, explica. Para ele, João de Deus faz o contrário. Mas, a cura, na opinião do oftalmologista, viria do próprio doente. “Não acredito em milagres. Há ca­sos excepcionais e os pronto-socorros têm inúmeras histórias. Quando uma pessoa está doente, ela precisa de fé para equilibrar sua saúde”, diz.
 Emilia Rippel e Ulrich Volz: viagem para os que não podem pagar  Por: Nélio Rodrigues

Maria de Fátima é católica. Em novembro do ano passado, seu médico pediu exame de colonoscopia – que detecta câncer. Ela sentia que havia alguma coisa errada com o seu organismo. “O médium me falou que eu precisaria de uma cirurgia urgente”, conta. Des­de então, a dentista ainda não fez o exame, não passou por um médico para saber se havia câncer, se ele foi curado ou se ainda está lá. É a terceira vez que está em Abadiânia. “Sinto que estou melhor. Já não conseguia con­trolar as fezes, tinha artrose e outras coisinhas. Melhorei”, diz. 

Para todas as pessoas, João receita um ou vários frascos de comprimidos à base de passiflora. O custo sai a 10 reais o frasco. O diferencial, segundo os ajudantes do médium, é que cada um deles é energizado pelas entidades espirituais da casa. Para esse remédio, paga quem pode. Antes, explica o administrador da casa e atual secretário de finanças da prefeitura, Hamilton Pereira, o médium receitava espécie de garrafa­da, uma mis­celânea com diversas plantas. “Mas o pessoal da vigilância sanitária implicou e chamamos os pesquisadores da Uni­versidade Fede­ral de Goiás, que nos deram consultoria para desenvolver a fórmula do remédio e vêm a cada 15 dias para ver se está tudo certo”, ressalta Pereira.
 Ovídio Ferracioli e sua mulher Maria Luiza: alta do médium
 Por: Nélio Rodrigues

Quem recebe cura volta pa­ra contar, mesmo anos depois do ocorrido. Palestras são ministradas a to­do momento e casos são contatos para novatos e veteranos da ca­sa. É o que acontece com o homem que fala, no salão da recepção, sobre a cura de tumor no cérebro. O locutor Luiz Carlos Nunes, 60, de São Leopoldo (RS), afirma que estava desenganado pelos médicos em 1996. A princípio, não veio à casa. Mandou foto. “A entidade falou que eu deveria vir a Abadiânia para uma cirurgia.” João abriu a cabeça de Luiz e retirou, nas palavras do ex-doente, o câncer. “Mas o tratamento espiritual não é de um dia para o outro. É preciso perseverança”, orienta.
 Wellington faz excursões duas vezes por mês para Abadiânia 
Por: Nélio Rodrigues.

E talvez nem mesmo a persistência seja sinônimo de cura. O empresário e engenheiro químico paulista Taufik Daud, 49, perdeu a esposa há pouco mais de três meses para um câncer. Chegou a levá-la aos Estados Unidos, no Texas, para exames e novo diagnóstico. Em 2006, ficou sabendo de Abadiânia por meio de amigos. Desde então, che­­gou a ir dez vezes à cidade go­iana para que a mulher fosse atendida por João de Deus. “Para algumas pessoas, há um limite e isso não quer dizer que deu errado. Pelo contrário, minha esposa passou por vários tratamentos, várias quimioterapias e, vir até aqui, ajudou muito”, diz.
 Benedito Lacerda acompanha sua mulher Maria de Fátima
 Por: Nélio Rodrigues

A morte, que pode significar o fim para alguns, é o início da mudança para outros. O guia do ônibus de Minas Gerais Wellington Vi­nícius da Silva, 43, o Welinho, conta que há dois anos zombava quando ouvia qualquer menção a João de Deus. E ele ouvia muito, já que o pai Walter Vicente da Silva era 8 presença constante em Abadiânia. Ele também era guia de romeiros e médium da casa. A mudança aconteceu em 2008 quando, por causa da doença do pai, começou a levar romeiros para Abadiânia. Em julho do ano passado, João de Deus anunciou para Welinho que seu pai iria morrer em breve. Menos de um mês depois, o pai estava morto. Desde então, o guia leva, duas vezes por mês, romeiros para Abadiânia. Tam­bém ajuda no atendimento da casa. “Senti um chamado e agora estou na minha missão.”
A viagem feita por Welinho de Belo Horizonte à cidade goiana dura 12 horas e a distância é de 800 km. Abadiânia é uma cidade que vive em função de João de Deus há pelo menos 30 anos. São 13 mil habitantes e média de 9 mil visitantes por mês. Mas, não procurem pessoas da cidade na fila para o tratamento com o médium. A secretária municipal de Saúde, Miraide Moreira, é convicta ao afirmar que os abadianenses não procuram o santo de casa. “Nos primeiros anos, as pessoas até procuravam pela casa, mas agora isso não acontece”, diz.

A ampla maioria de visitantes da Casa de Dom Inácio é de outros estados e países. O coordenador do local, Hamilton Pereira, já contabilizou em cinco anos de trabalho visitantes de 22 países. Para atender a essa demanda, que passa de 100 mil pessoas por ano, são mais de 40 pousadas e hotéis e mais de 30 táxis. “Abadiânia é altamente dependente de João de Deus. Ele coloca a cidade no cenário nacional e internacional, mas nossa arrecadação é ainda tímida. A solução seria o aumento das taxas cobradas de hotéis e de IPTU ”, afirma o secretário municipal de Turismo, José Augusto Paralovo.
 Sala dos milagres: dezenas de muletas deixadas pra trás
Por: Nélio Rodrigues.

Se por um lado é turismo rápido – a maioria fica um dia – Abadiânia não pode reclamar da fidelidade das pessoas que chegam à cidade à procura de João de Deus. Quem gosta, volta mais de uma vez. A portuguesa da Ilha da Madeira Maria Lígia Carvalho Mendonça Diogo Vieira, 58, ouviu falar no médium há dois anos quando descobriu que precisava de transplante de fígado. Já voltou quatro vezes a Abadiânia. Não por causa da cirurgia na medicina convencional, que foi realizada, mas pela rejeição ao novo órgão, ocorrida um mês depois do transplante. “Vim porque corria o risco de uma nova cirurgia, mas dois anos se passaram e estou com o primeiro fígado transplantado. Estou bem, graças a Deus, porque sem fé não conseguimos nada”, conclui.

Maria Lígia está acompanhada do marido, o aposentado Serafim da Silva Vieira, 63, que tem válvula mitral por causa de  problema cardíaco. Inicialmente, Vieira veio acompanhando a mulher, agora faz questão de voltar ao Brasil pelo menos duas vezes por ano para ver João de Deus. “Foi um amigo de São Paulo que nos falou sobre ele. Quando o encontrei pela primeira vez, fiquei bastante comovido. Estou bem e isso é bom sinal.”

Na fila para o atendimento, a húngara Emilia Rippel, 56, dentista holística que trabalha com desintoxicação de pacientes por metais pesados, é saudada por João de Deus. Ela e o amigo alemão, o também dentista Ulrich Volz, financiam, com dinheiro próprio, a vinda de pessoas da Alemanha para Abadiânia.8 “Trazemos quem não pode pagar pela vinda à Abadiânia”, diz Emilia.
Outro estrangeiro, o lituano Olegas Orlovas, 28, também espera para falar com João de Deus. Psicólogo, está pela 7ª vez em Abadiânia graças ao sucesso do tratamento de uma tia, que se encontrou com o médium em uma de suas viagens internacionais. Estava em Nova Zelândia, com câncer em grau 4 e foi curada. Ficou tão impressionado que produziu, nos últimos dois anos, dois documentários sobre João de Deus. “Eles foram exibidos na Rússia e na Li­tuânia”, conta. Agora, está preparando documentário maior em que acompanhará quatro pessoas da Lituânia para tratamento no Brasil. “Minha ideia é sempre ouvir médicos e especialistas para saber sobre a evolução dos tratamentos feitos com João de Deus”, diz.

Além dos estrangeiros, ônibus com pessoas de toda parte do Brasil lotam os pátios das pousadas de Abadiânia. Há semanas em que pelo menos seis ônibus saem de Minas rumo à cidade. No dia da reportagem, havia somente o ônibus de Welinho, com 26 romeiros. O casal Ovídio Ferracioli de Oliveira, 71, aposentado, e a professora Maria Luiza Pereira de Oliveira, 64, de Di­vi­nó­polis, integravam a excursão. Ela teve nódulo no seio e caroço na axila. Ficou conhecendo o trabalho de João de Deus por meio de uma amiga. Conta que foi curada e, desde então, passou a frequentar a Casa de Dom Inácio. Já Ovídio pediu, há dois meses, para se encontrar com João de Deus por causa de problema cardíaco. Durante o atendimento, ouviu do médium o que todas as pessoas gostariam de escutar na consulta: “Está curado, estou te dando alta. Procure o seu médico para confirmar sua cura.” Chorou copiosamente. “Foi emoção demais, segui a dieta certinha e tomei todos os remédios”, conta.

Curiosamente, como muitos pensariam, Ovídio não correu ao médico para confirmar o diagnóstico de João. Cerca de 20 dias depois da viagem, a repórter ligou para o casal e ouviu de Maria Luiza que a consulta nem havia sido marcada. Mas estavam convictos da cura. “Ovídio está muito bem: ele antes ficava muito cansado, agora mudou completamente.” Embora não seja possível medir a fé ou não na cura de cada visitante, o certo é que ano a ano aumenta o número de pessoas que visitam Abadiânia em busca de milagre.

Revista Viver - Reportagem - Especial Cura Pela Fé II

12 Horas com João

Por: Eliana Fonseca
Fotos: Nélio Rodrigues
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A CURA PELA FÉ - THE CURE THROUGH FAITH VOL 1 JOÃO DE DEUS - JOHN OF GOD




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3 comentários:

  1. Quanta luz. Quem é você nessas fotos?

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  2. Esperança, agradecemos a sua presença na pagina do mestre Praxedes e os comentarios, que nosso mestre leu e pediu para retransmitir a voce que sua visita traz alegria para nosso coração.
    obrigado!

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  3. Creio que todo aquele que espõe,suas intenções e as pratica em nome de Deus,mostrando claramente que seu intuito é trabalhar para que se exalte e glorifique o nome e a magestade do Pai eterno,
    curando pessoas tanto na materia como no espirito
    é digno de respeito,e confiança,dos que professam
    a fé,e na esperança de dias melhores para aqueles que não tem acesso,a medicina tradicional,marlene

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