Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro,
O barco, impulsionado pela força dos ventos,
vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará:
“já se foi”.
Terá sumido?
Evaporado?
Não, certamente.
Apenas o perdemos de vista.
O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.
O veleiro não evaporou,
Apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo.
E talvez, no exato instante em que alguém diz:
já se foi”, haverá outras vozes, mais além, a afirmar:
“lá vem o veleiro”.
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um Amor que nos foi caro,
e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos:
“já se foi”.
Terá sumido?
Evaporado?
Não, certamente.
Apenas o perdermos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo.
Sua capacidade mental não se perdeu.
Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso lado.
Conserva o mesmo afeto que nutria por nós.
Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita do outro lado.
E é assim que, no mesmo instante em que dizemos:
já se foi”, no mais além, outro alguém dirá feliz:
“já está chegando”.
Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a viagem terrena.
A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a natureza não dá saltos.
Cada um leva sua carga de vícios e virtudes,
de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A vida e feita de partidas e chegadas.
De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser partida, para outros é chegada.
Um dia partimos do mundo espiritual na direção do mundo físico;
noutro partimos daqui para o espiritual,
num constante ir e vir,
como viajores da imortalidade que somos todos nós.
Imagem: Takaki
Obs: Ao reproduzir o texto, favor citar autor e a fonte.
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