Antes de adentramos ao tema Família Universal, é mister breve intróito sobre a Gênese Espiritual, o início dos corpos orgânicos, animados por um princípio inteligente.
Segundo a teoria kardequiana, “todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente”.[1] Assim, tudo que se manifesta de forma coerente e racional dentro do Universo possui no seu bojo a constituição de um princípio inteligente. Tal princípio, é o que diferencia o homem dos animais, acumulando naquele a razão no lugar do instinto, o discernimento no lugar da selvageria e a ponderação ao invés dos impulsos.
Não nos é permitido ainda conhecer a origem do princípio inteligente, mas, pela soberana justiça e bondade divinas, podemos perfeitamente deduzir que todos têm um único ponto de partida; todos são criados simples e ignorantes e são entregues aos reveses da vida onde, utilizando-se desse princípio e do livre-arbítrio conferido a cada um, possam encontrar o caminho da felicidade e do aperfeiçoamento.
O princípio inteligente não se extingue com a desagregação das moléculas e conseqüente perecimento do organismo físico. Pelo contrário, continua vigendo mesmo após o desaparecimento da matéria que o sustenta. É perene e possui graus de evolução e aperfeiçoamento dentro da grandiosa Criação Universal.
Sem a sobrevivência do ser pensante, tudo aquilo que aprendemos e adquirimos nas sucessivas existências do espírito se perderia em frações de segundos e, fatalmente, estaríamos destinados ao nada, apesar dos esforços empreendidos para o alcance do saber.
Adotamos, por hipótese, a teoria científica de que o homem descende do primata. É perfeitamente possível que o espírito, antes de habitar o corpo humano como conhecemos nos dias de hoje, passou por estágios em corpos físicos mais rudimentares que o atual. Espírito e Corpo foram evoluindo gradativamente, até alcançarem uma forma mais perfeita, como na origem de novas espécies da natureza.
Com ensina a codificação, “corpos de macacos puderam muito bem servir de vestimenta aos primeiros espíritos humanos, necessariamente pouco avançados, que vieram se encarnar sobre a Terra, sendo essas vestimentas os meios apropriados às suas necessidades e mais próprios ao exercício de suas faculdades que o corpo de nenhum outro animal”.[2] Portanto, o princípio inteligente que habitava em um corpo rudimentar, foi evoluindo juntamente com ele, desenvolvendo razão, discernimento e ponderação.
c) Encarnação dos Espíritos
O Espiritismo vem nos ensinar de que maneira se opera a união do Espírito e do Corpo que tem por escopo o início de uma existência, o exórdio de uma encarnação.
O Espírito, por sua essência, é um ser abstrato, indefinido, que não pode ter uma ação direta sobre a matéria. Não pode interatuar, não consegue interferir em um ambiente material, ante a depuração que lhe é peculiar. Por isso ele possui um envoltório semi-material que o recobre, denominado perispírito e que serve de meio de interação entre o mundo material e espiritual.
Mas, por ser o perispírito constituído de matéria quintessenciada, ainda não é suficiente para propiciar ao Espírito os meios necessários para a encarnação. Daí a necessidade da indumentária carnal que compõe o corpo físico. Por intermédio de cordões fluídicos, perispírito se une à matéria célula a célula, molécula por molécula, formando uma simbiose entre organismo físico e organismo espiritual, este portador do princípio inteligente e aquele reunindo os meios necessários de interação no mundo material.
Com a bênção do esquecimento do passado, damos início a uma (ou a mais uma) existência, onde somos depositados em uma família, com outros espíritos afins ou comprometidos com o nosso planejamento encarnatório.
A encarnação é uma necessidade, útil ao adiantamento do Espírito, e este deve zelar por seu corpo físico, provendo a sua nutrição, bem-estar e equilíbrio.
A consangüinidade tem apenas a intenção de aproximar espíritos dentro de um mesmo contexto familiar para unirem-se em prol da evolução e reforma íntima recíprocas. Podem ser espíritos simpáticos, ligados por afeições advindas de existências anteriores e que assumem um papel de auxílio mútuo. Entretanto, é também possível que sejam almas endividadas umas com as outras e que necessitam de uma existência carnal em comum para o exercício do perdão, da paciência e da tolerância e, dentro desse antagonismo, a providência divina também reconduz tais indivíduos para a conquista do adiantamento espiritual.
Podemos dizer que há duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. “As primeiras, duradouras, fortificam-se pela purificação da alma. As segundas, frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo e quase sempre de dissolvem moralmente desde a vida atual”.[3]
Somos todos espíritos interligados a uma divina Criação. Fazemos parte de uma grande construção, onde ocupamos espaços entre os alicerces, as pedras e o cimento que a compõe. Como elementos constitutivos dessa obra de Deus, sustentamos a edificação que está acima de nós. Mas não podemos olvidar que há uma base que nos sustenta nos momentos de provação de nossa vida.
É chegado o momento da humanidade se unir. Chega de divisões entre os povos. Basta de fronteiras e línguas, que acabam por distanciar as pessoas. Infelizmente, o homem ainda não se deu conta que somente será feliz por completo quando ajudar a minimizar o sofrimento de seu próximo. A humanidade nunca conquistará a felicidade plena, enquanto houver um espírito sequer sofrendo na face da Terra.
Jesus, depois de haver sido questionado e testado inúmeras vezes pelos Fariseus, continuava com a sua pregação, elucidando as mentes daquela época, quando recebe a notícia de que sua mãe e seus irmãos lhe aguardavam e desejavam falar-lhe. Para a surpresa de todos, redargüiu o Nazareno: “Quem é minha mãe, quem são meus irmãos?” Em nenhum momento Jesus quis menosprezar seus parentes com essa indagação. Ao contrário, com a sua infinita sabedoria, desejava despertar o pensamento dos homens para essa grande família universal que ora tratamos. Desejava demonstrar que todos somos irmãos, pois somos filhos do mesmo Criador, devendo ser exteriorizado o respeito e afeto pelos nossos semelhantes. Estendeu as mãos apontando para os discípulos e disse: “eis minha mãe e meus irmãos” e finalizou com uma das maiores pérolas de seus ensinamentos: “porque todo aquele que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe”.[4]
Desejamos discorrer ainda sobre alguns tópicos específicos, porém diretamente relacionados ao tema “Família Universal”.
A Adoção
A adoção constitui o maior exemplo prático da máxima cristã que diz: “fazei aos outros aquilo que gostaríeis que fizessem a ti”. Coloquemo-nos no lugar das crianças abandonadas, sejam em orfanatos, sejam nas ruas. Não possuem a referência de um pai e de uma mãe e muito menos da constituição familiar tradicional, que tanto educa e que é de suma importância ao espírito que inicia uma nova encarnação.
Trazer uma criança órfã para dentro de um lar com o intuito de ministrar-lhe atenção individualizada, carinho, afeto, orientação, ser educada e evangelizada nos preceitos cristãos trazidos pela “boa nova” é uma das maiores caridades que pode ser exercida.
Mas engana-se aquele que acha que a adoção se resume em um simples gesto caridoso. Existem comprometimentos espirituais entre adotado e adotante, e a providência divina se encarrega de colocar esses espíritos novamente em um convívio salutar para o adiantamento moral de cada um. Se a união dessas almas não é possível através dos lanços de consangüinidade, serão aproximadas por intermédio da adoção, como nos ensina várias obras mediúnicas, entre elas o livro “E a Vida Continua”, de André Luiz, psicografado por Chico Xavier.
Segundo Richard Simonetti, “há Espíritos que reencarnam para serem filhos adotivos. Esta situação faz parte de suas provações, geralmente porque no passado comportaram-se de forma indigna em relação aos deveres familiares. Voltam ao convívio dos companheiros do pretérito sem laços de consangüinidade, o que para os Espíritos de mediana evolução representa sempre uma provação difícil, destinada a ensiná-los a valorizar a vida familiar”.[5] A responsabilidade dos adotantes, portanto, é ainda maior. É preciso uma dedicação ainda mais intensa por parte dos pais, enquanto educadores e evangelizadores desse espírito que lhes foi confiado por meio da adoção, a fim de diminuir os efeitos de eventual trauma que o adotado possa desencadear quando do conhecimento de sua situação.
Quiçá um dia não haverá mais orfanatos em nosso planeta, onde o real sentimento de fraternidade tomará conta de todos os corações e crianças abandonadas possam ser recebidas de braços abertos em famílias dignas e honradas com os compromissos mais sublimes e elevados da existência física.
O Aborto
Não desejamos falar aqui do aborto provocado, intencional, que traz conseqüências cármicas desastrosas àqueles que o praticam. Também não é oportuno para o momento discutir acerca da legalidade ou ilegalidade dessa conduta, uma vez que encontramos posicionamentos distintos nas várias regiões do planeta.
Dentro do encadeamento das idéias de família universal aqui desenvolvidas, desejamos tecer comentários sobre o aborto espontâneo. Ora, é cediço que o abortamento natural (não provocado) promove nos genitores dessa criança imenso abatimento diante da frustração de não terem em seus braços o bebê que tanto desejavam.
Para o espírito reencarnante, a decepção também é grande em ver obstada a possibilidade de uma nova existência.
Entretanto, nada acontece por acaso. Como explica Richard Simonetti, o abortamento espontâneo, “pode ser a conseqüência de uma recusa à maternidade no pretérito, envolvendo, não raro, o aborto criminoso. Quanto ao filho, ele pode estar comprometido com o mesmo crime ou com o desvario do suicídio, colhendo agora a frustração do anseio de reencarnar, com o que aprenderá a valorizar a vida”.[6]
Os desencontros provocados pelo aborto serve de engrandecimento para essas almas afins, seja no amor ou no ajuste cármico para que, em novas tentativas, consigam equilibrar-se com bases sólidas nos ensinamentos cristãos e possam desenvolver dentro de si a aceitação de iniciarem uma jornada existencial unidos pelos laços de consangüinidade.
Espíritos Missionários
Por que a maior parte dos espíritos missionários passaram uma existência inteira desvinculados de uma família? Por que esses espíritos tão evoluídos não se renderam à união conjugal e constituíram para si um ambiente familiar? Por qual motivo desprezaram a paternidade e se renderam a uma vida inteira de renúncia e de sacrifícios?
Essas e outras indagações são feitas constantemente por aqueles que iniciam ao estudo do Espiritismo.
Podemos dizer que esses espíritos, dentro do contexto de família universal, são nossos “irmãos maiores” que nos recolocam ao caminho do bem e a quem depositamos nossa inteira confiança diante da experiência que denotam em suas atitudes e palavras.
Com grande devotamento, primeiramente em São Leopoldo e posteriormente na cidade de Uberaba, Chico Xavier teve uma vida inteira dedicada na propagação do Espiritismo. Através da sua mediunidade, foram publicados mais de 400 obras que são o corolário do aprendizado de adeptos e simpatizantes dessa doutrina. Eurípedes Barsanulfo também abdicou de seus momentos de prazer e descanso em prol dos doentes e, na cidade de Sacramento, foi o maior exemplo de dedicação e apreço pelo empenho em favor do próximo, trabalhando até o dia de seu desencarne.
Nosso querido irmão Tadeu, na cidade de Araxá, abriga velhinhos na “Casa do Caminho”, dando a eles uma oportunidade ímpar nos últimos anos das suas encarnações. Por fim, temos a Dona Cida que, na cidade de Uberaba, ainda dirige o Hospital do Fogo Selvagem, e, em um momento de grande dificuldade de sua vida, levou os doentes do pênfigo para o seu próprio lar, preterindo a sua família consangüínea, mas acolhendo com amor membros dessa grande família universal.
Entre outros, eis os maiores exemplos de Família Universal que passaram por essa pátria. Cuidaram de estranhos como se parentes seus eles fossem. Ensinaram desconhecidos como se eles estivessem sob sua guarda e tutela. Renunciaram ao próprio descanso em favor dos menos afortunados do caminho.
Encerramento
Abracemos essa causa irmãos e irmãs. Regozijemo-nos diante da oportunidade de servir e aprender com aqueles que nos são caros e que a eles estamos entrelaçados pela consangüinidade ou pela proximidade afetiva, e que possamos estender esse amor e esse apreço a todos que nos circundam, formando entre várias uniões, uma só família: A FAMÍLIA UNIVERSAL!
TÍTULO.: Família Universal
Autor: Fábio Gallinaro e Maria Lúcia dos Santos Gallinaro
[1] A Gênese, Capítulo XI
[2] A Gênese, Capítulo XI
[3] ESE, Capítulo XIV
[4] Novo Testamento, Evangelho Segundo Mateus, cap. XII, v. 46/50.
[5] Texto extraído do site www.espirito.org.br
[6] Texto extraído do site www.espirito.org.br
O HOSPITAL ESPIRITUAL DO MUNDO agradece os irmãos DA REVISTA ESPÍRITA-CRISTÃ DO TERCEIRO MILÊNIO pelo artigo que iluminou este espaço de aprendizagem e encontros Sagrados.
Se deseja compartilhar e divulgar estas informações, reproduza a integralidade do texto e cite o autor e a fonte. Obrigada. Hospital Espiritual do Mundo.
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